Ex-ministro da Fazenda condena uso de bancos públicos para suprir escassez de crédito

12/03/2009 - 20h03

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O ex-ministro daFazenda no governo Sarney Maílson da Nóbrega condenou hoje (12) autilização de bancos oficiais, como a Caixa Econômica Federal (CEF) e oBanco do Brasil, como instrumentos para suprir as empresas nacionaisneste momento de escassez de crédito internacional. O economista tambémposicionou-se contrário à alteração nas regras em vigor, especialmenteas que regem as agências reguladoras.Na audiência públicarealizada pela Comissão de Acompanhamento da Crise do Senado, Maílsonda Nóbrega afirmou que “todas as vezes em que os bancos oficiais foramutilizados para repor crédito tornaram-se, a longo prazo, depositáriosde maus investimentos”.Ele fez um apelo aos parlamentares paraque aprovem o mais rápido possível o projeto de lei que institui ocadastro positivo, que aguarda votação na Câmara dos Deputados. Maílsonda Nóbrega ressaltou que o cadastro atua diretamente no combate àinadimplência, principal fator, a seu ver, para a redução do spreadbancário (a diferença entre a taxa de juros que o banco capta e as que são cobradas ao tomador de empréstimo).Maílson da Nóbrega também rejeitou qualquer mudançanos marcos regulatórios, especialmente o do petróleo. O próprio governoadmite rever a regulação do setor para adequá-lo à nova situação criadaa partir da descoberta da camada pré-sal.“Eu rejeitariaqualquer mudança nas regras [que regulam o setor do petróleo] e tambémnão criaria uma nova estatal, como quer o governo, porque não se mexe no que está dandocerto”, defendeu o economista, na comissão.Com o mesmoraciocínio dos demais economistas que participaram do debate, Maílsonda Nóbrega considerou que o Brasil está bem preparado para enfrentar acrise mundial. Ele destacou o fato de o país, no governo do presidenteFernando Henrique Cardoso, ter realizadoo Programa de Restruturação Financeira (Proer), que possibilitou hojeaos bancos nacionais terem “resistência” para enfrentar os efeitosnegativos do setor no exterior.O economista também destacou o fato de o Banco Central brasileiro ter meios mais eficazes de enfrentar crises do que há 20 anos. “O Banco Central, hoje, tem grande credibilidade e previsibilidade”, disse. Isso,acrescentou ele, possibilita ao Brasil viver uma situação diferente daquelasque enfrentou em crises internacionais anteriores. “Na primeira crisedesta magnitude, com situação diferente, a inflação cai, quando antesaumentaria; a relação dívida/PIB [Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas no país] se manterá ou cairá, quando antescrescia”, destacou.Maílson disse que “os pecados brasileiros”,nesta crise, tornaram-se virtudes. De acordo com ele, bastou o governoreduzir o percentual do compulsório cobrado pelo Banco Central dasinstituições financeiras para injetar mais recursos na economia. “Ataxa de juros alta hoje é um bônus, uma vez que possibilita ao BancoCentral reduzi-la para aquecer a economia enquanto os bancos centraisamericano e europeus praticamente já reduziram suas taxas a quasezero ponto percentual", acrescentou o ex-ministro da Fazenda.