Em São Paulo, área decadente abriga maior cracolândia do país há 20 anos

12/03/2009 - 9h37

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Na maior cidade do Brasil, traficantes e usuários decrack transformaram uma área decadente na principal e maisconhecida “boca de fumo”do país. Conhecida há 20 anos como Cracolândia, aregião é localizada no centro da capital paulista.Segundoo delegado do Departamento de Investigações sobreNarcóticos (Denarc) da Polícia Civil, LuísCarlos de Freitas Magno, o local passou por uma transformaçãodepois que a rodoviária do bairro foi desativada, o queacarretou na perda do interesse econômico na área.

Hotéise bares ficaram sem clientes e a polícia começou anotar a chegada de imigrantes de outros países da Américado Sul. A região começou a se tornar propíciapara o tráfico do crack”, diz.Deacordo com Magno, as autoridades começaram a recuperar ocontrole do local em 2000. Hoje, entretanto, a polícia notauma reacomodação da droga na região. Segundoele, o perfil dos usuários na área da Cracolândiaé basicamente o de moradores de rua, de todas as idades eusuários de álcool.

“Háuma população flutuante de cerca de 2 mil pessoasusuárias da droga, o que dificulta até paraencontrarmos uma pessoa pela segunda vez na área. Parte dessaspessoas não possui nem certidão de nascimento.”Eledestacou que a polícia realiza trabalhos para tentar coibir otráfico e o uso da droga na região, inclusive contandocom o apoio da prefeitura que lava as ruas do bairro.

Pareceuma ação boba, mas não é, porquedescobrimos que eles escondiam as pedras nas frestas do asfalto.”

Outrasações destacadas são o fechamento de hotéise bares irregulares e a realização de triagens,recolhimento de pessoas envolvidas com a droga e o envolvimento dassecretarias estaduais para tentar sanar o problema. “Averdade é que esse é um problema social grave e nãoum problema apenas da polícia.”Segundo ele, oshospitais que recebem dependentes não têm condiçõesde mantê-los por muito tempo. Magno ressaltou que háainda a idéia equivocada de que o dependente químicopossa ser encaminhado para hospital psiquiátrico, mas o localnão é indicado porque não há preparo paraesse tipo de tratamento.

“Nãohá possibilidade de internação e os Centros deAcompanhamento Psicológico [Caps] não sãosuficientes para a demanda. O Poder Público também nãodispõe de recursos e meios para absorvê-los”, diz. AAgência Brasil entrou em contato com a prefeitura dacidade que afirmou já existir um projeto em andamento pararevitalização do local. O projeto Nova Luz, que teveinício em 2005, prevê uma série de açõespara recuperar os imóveis abandonados e a segurança daregião. O objetivo é conceder incentivos fiscais paraatrair comerciantes.Nototal, 23 empresas já apresentaram projetos e foramhabilitadas – a expectativa da prefeitura é que, juntas,elas invistam cerca de R$ 752 milhões.