Avanço do crack pode ter relação direta com aumento de homicídios e crimes

11/03/2009 - 9h53

Marco Antonio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Oabalo psicológico e os gastos necessários paramanutenção do vício são dois elementos doconsumo do crack que potencializam o flerte do usuário com asações criminosas. A maior parte dos usuários sãojovens de classes sociais mais baixas.

"Oindivíduo se isola num processo de embrutecimento absurdo edesumanização que gera rompimentos familiares, detrabalho e de escolaridade”, diz o coordenador do Centro de Estudose Pesquisas em Segurança Pública da PontifíciaUniversidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Luis Sapori. “Isso gera um tipo de violência mais intensiva, consistentee perversa do que a cocaína e a maconha.”Opsiquiatra Félix Kessler, que realiza pesquisas sobre oconsumo de crack no Rio Grande do Sul, confirma a relaçãopreocupante entre o consumo de crack e a violência. "Osdanos familiares, sociais e profissionais que essa droga causa, aviolência que ela gera, levando às vezes o indivíduopara a criminalidade, preocupam muito. Os pacientes se tornam maisagressivos e, no desespero do uso da droga, temos visto meninos indopara criminalidade e meninas se prostituindo em troca da pedra",relata Kessler.

Ocoordenador do Núcleo de Pesquisa em Criminalidade, Violênciae Políticas Públicas de Segurança daUniversidade Federal de Pernambuco (UFPE), José Luiz Ratton,acredita que o crack talvez seja a única droga disponívelno mercado brasileiro que tenha relação direta comcertos tipos de criminalidade.

"Oproblema da disponibilidade de armas junto com o crack, nas áreaspobres, é muito grave. Não é só o crimecontra a propriedade, mas o crime contra a vida. A combinaçãodestes elementos é explosiva", ressalta Ratton.

Aobsessão pelo consumo gerada pelo crack também preocupapoliciais. "O usuário do crack faz o que for possívelpara comprar a droga. A droga domina o ser humano de uma forma queele está pouco ligando se vai ser preso. Se não tiveruma repressão muito forte, repercute principalmente nos crimescontra o patrimônio", diz o chefe da Coordenaçãode Repressão às Drogas da Polícia Civil doDistrito Federal, delegado João Emílio de Oliveira.Indíciosda relação direta entre o crescimento do consumo decrack e o aumento dos índices de criminalidade nas localidadesmotivaram pesquisadores a colocarem como prioridade o desenvolvimentode estudos que garantam diagnóstico preciso do problema."Querofazer um grande estudo local e nacional para comprovar que ocrescimento dos homicídios em várias regiõesbrasileiras não pode ser separado da entrada do crack nestaslocalidades", afirma Sapori, da PUC Minas.

Ele acredita que uma combinação de açõesrepressivas e preventivas eficientes contra o comércio e o usode crack pode levar a uma redução do nível dehomicídios no Brasil. Mas, por ora, as estruturas públicasse mostram aquém do desafio, a começar pela ausênciade informações empíricas consistentes.

"Apolícia percebe o problema, mas ainda precisa compreendermelhor o que se passa. Ainda sabemos pouco da relaçãodireta do crack com a criminalidade. Os americanos já cuidaramdisso nas décadas passadas. No caso brasileiro, é horade fazer o mesmo, ou seja, estudar o problema do ponto de vista dasaúde pública, da reinserção social e dotráfico", alerta Sapori.