Empresas do Pólo Industrial de Manaus traçam estratégias para enfrentar crise econômica

09/03/2009 - 15h54

Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Manaus - Para driblar a crise financeira internacional e reduzir seus efeitos no dia-a-dia das linhas de produção, empresas do Pólo Industrial de Manaus (PIM) traçam estratégias diversas. De acordo com a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), a redução da jornada de trabalho e as férias coletivas têm sido algumas das medidas adotadas pelas indústrias para lidar com situações como a falta de componentes importados para montagem de produtos – que diminuíram no mercado externo e impedem a importação para o Brasil – e com a redução de parte da produção em algumas empresas diretamente afetadas pela má fase econômica. Com isso, essas empresas tentam manter a estabilidade e o número de empregados em suas unidades fabris.Ainda de acordo com a Suframa, empresas dos setores de duas rodas, termoplástico e eletroeletrônico, por exemplo, têm buscado acordos com os governos estadual e federal para garantir a manutenção do número de empregados em troca de vantagens fiscais temporárias. Exemplo disso foi a redução de 3,38% para 0,38% no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), cobrado nos financiamentos para compras de motos por pessoas físicas e a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para o segmento de duas rodas. Este último foi um benefício concedido pelo governo do Amazonas às unidades fabris instaladas no estado.Em entrevista à Agência Brasil, o gerente de negócios da Jabil, Celso Piacentini, considerou que, como a crise tem reflexos distintos entre os diferentes setores de produção do PIM, as estratégias de enfrentamento precisam ser diversificadas. Ele revelou que, no caso da empresa que representa, aproximadamente 200 novos funcionários já foram treinados e estão sendo chamados para integrar o efetivo de empregados da empresa. Em breve, esses trabalhadores vão atuar em uma nova produção, fruto de um contrato de longo prazo fechado pela empresa na área de recepção de TV digital via satélite e via cabo. A empresa atua no setor eletroeletrônico e existe em Manaus desde 2002. Atualmente tem cerca de 800 funcionários trabalhando em até três turnos.“Setores como o pólo de duas rodas foram mais afetados por esta crise porque geram produtos de maior valor e cujas vendas estão relacionadas à oferta de crédito para os consumidores. Contudo, no geral, as políticas governistas industriais e a melhoria das relações com os sindicatos têm nos ajudado nessa fase”, declarou.Outro exemplo de empresa que continua remando na contramão das correntezas da crise econômica é a Nokia do Brasil. Na semana passada, a direção da empresa anunciou a fabricação do primeiro telefone celular de alta qualidade (high-end) do país na fábrica em Manaus, já a partir de abril. Segundo o presidente da Nokia do Brasil, Almir Narcizo, o foco da nova produção é o mercado nacional. Ele declarou que o Brasil é o oitavo maior mercado consumidor para a Nokia e, apesar da crise financeira internacional, a empresa está investindo na ampliação de produtos. Nos últimos meses, a Nokia demitiu apenas servidores temporários o que, segundo Narcizo, é um processo normal após o período de festas natalinas.“Nos últimos meses, a Nokia não demitiu seus funcionários. Evidentemente que houve redução de temporários após o Natal, mas isso é natural e ocorre todo ano na indústria em geral. Estamos atacando esta crise com investimentos e enriquecimento do portifólio de produtos num momento em que outros fabricantes estão diminuindo essas iniciativas. Isso vai nos permitir ser mais competitivos durante a crise”, finalizou.A novidade, segundo o diretor da fábrica na capital amazonense, Mauro Correia, significa o aumento e o reconhecimento da competência do Pólo Industrial de Manaus (PIM), uma nova possibilidade para aumento das exportações e a garantia da manutenção do número de funcionários nessa indústria. Apesar da inserção de um novo produto nas linhas de produção da fábrica da Nokia na capital amazonense, não haverá, por enquanto, novas contratações.“No momento não haverá nenhuma contratação. Vamos contar com o trabalho dos nossos funcionários e utilizar os equipamentos que já temos. Se estivéssemos numa condição normal de temperatura e pressão no mercado, como estávamos no início de 2008, com certeza estaríamos aumentando o número de empregos”, acrescentou.Indicativos econômicos da Suframa apontam que a crise econômica trouxe efeitos negativos para Manaus. No último trimestre de 2008, 14.555 empregos, entre mão-de-obra efetiva, terceirizada e temporária, foram eliminados. Os dados referentes ao três primeiros meses deste ano ainda não foram consolidados pela autarquia federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Ainda assim, para o Superintendente Adjunto de Projetos da Suframa, Oldemar Ianck, mesmo com a crise financeira internacional, o Pólo Industrial de Manaus continuará crescendo em 2009, mas em nível inferior ao verificado nos últimos anos. Ele ressaltou que o principal mercado das empresas do PIM é o nacional e que medidas que visam ampliar a competitividade dos produtos e a preservação dos empregos nas linhas de produção estão sendo tomadas com apoio dos ministérios e governo estadual.“De qualquer modo, manteremos uma firme política de promoção do parque fabril no mercado internacional, seja para efeito de aumento das exportações, seja com o objetivo de atrair novos investidores, como os da área de componentes.”