Violência contra os homens afeta também as mulheres, afirma ativista

08/03/2009 - 11h11

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A chegada do mês de março nãotraz boas lembranças para a família de CátiaPatrícia da Silva. Há quatro anos, na últimanoite do mês, ela perdeu o irmão e o primo em umachacina em que morreram mais 27 pessoas em Queimados, BaixadaFluminense. Os acusados eram todos policiais – três estãopresos e dois aguardam julgamento. Cátia diz que a famíliaainda fica abalada quando se aproxima a data da chacina.“Minha mãe é idosa, tem diabetes.Quando vai chegando [a data], ainda fica meio assim... Lembradaquela noite em que meu irmão não voltou. Toda vez,pergunta por que fizeram isso”, conta a doméstica,coordenadora da Associação de Familiares e Amigos dasVítimas de Violência na Baixada. Cátia ressaltaque, assim como sua família, outra foram afetadas pela mortede parentes na chacina e afirma que a violência contra oshomens impacta também a vida das mulheres.De acordo com relatório divulgado no anopassado pela Anistia Internacional, a violência contra asmulheres não é resultado apenas da violaçãode seus próprios direitos, mas de abusos cometidos contrafilhos ou companheiros. Segundo pesquisa recente do Ministérioda Saúde, 72,8% das pessoas atendidas na rede públicapor causa da violência são homens. O dia-a-dia dedisputa entre gangues, incursões violentas da polícia eo fato de muitas pessoas serem apontadas como suspeitas por moraremem lugares vulneráveis provocam até problemas de saúde.“Toda vez que a situação deviolência fica aguda, como em tiroteios, aparecem casos decrise hipertensiva, descontrole do diabetes, sofrimento mental einsônia”, afirma a médica Jurema Werneck, coordenadorada organização não-governamental Crioula.Trabalhando em favelas há cinco anos, Jurema lembra que, alémdos problemas decorrentes do estresse, as mulheres que têm parentes presos ou mortos em situações de violênciasão estigmatizadas como responsáveis pela“desestruturação familiar”.“Elas são as culpadas número 1.São culpadas, simplesmente, por serem mães, esposas eirmãs, responsabilizadas por, supostamente, não teremdado conta de seus filhos”, ironizou. “O peso disso é oabandono, o isolamento, que têm conseqüências para oresto da família”. A ativista destaca ainda que muitasmulheres passam a arcar com as despesas da casa e enfrentam batalhasjudiciais sem nenhum tipo de recurso. De acordo com médica, os danos patológicosda violência não se resolvem apenas com remédios,embora essas mulheres precisem ser tratadas pelo sistema públicode saúde. Para Jurema Werneck, há necessidade de açõesintersetoriais, sistêmicas, que combatam toda a situaçãode violência a qual as mulheres estão submetidas. “Sóo antidepressivo não resolve”, conclui.