Grupos reduzem reincidência em casos de agressão contra mulheres

08/03/2009 - 18h59

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Quandodecidiu trabalhar com homens agressores de mulheres, em 1993, o secretárioadjunto de Valorização e Prevenção da Violência em Nova Iguaçu (RJ), FernandoAcosta, esperava encontrar pessoas “muito perversas”.  Hoje, Acosta,  que épsicólogo, acredita na capacidade de mudança do ser humano. “A partir dessetrabalho, percebo o quanto somos maleáveis. A gente pode esculpiroutros tipos de seres humanos”, afirmou.

O secretário baseia sua opinião no trabalho feito com agressores, que passam por um processo de reabilitação oferecido pelo Serviço de Educação e Responsabilização (SER) do município. Segundo ele, 95% não voltam a cometer atos de violência contra mulheres.

O trabalho está previsto na Lei Maria da Penha, mas o psicólogo já atua nessa linha de reeducação há mais de 15 anos. De acordo comele, o que leva os homens a agredirem suas companheiras é uma construçãocultural equivocada de masculinidade. “Acho que o grande motivo é essa culturamachista, patriarcal e homofóbica [preconceituosa em relação a homossexuais]”, disse.

No ano passado,o Disque Denúncia da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres recebeu 24,5 mil denúncias de violência. Em 63% dos casos, o agressor era ocônjugue. Os tipos de violência mais comuns foram a lesão corporalleve (52,5%) e a ameaça (26,5%).Os homens que praticam esse tipode violência são encaminhados ao SER pelos juizados especiais de Violência Doméstica contra a Mulher ou por outros serviços da rede de proteção feminina.

Com base em entrevistas e terapias de grupo durante vários meses, o método do psicólogoleva o agressor a repensar seus atos. “Nós tocamos emocionalmente esses homenspara que eles possam perceber quais são os sentimentos que têm quando praticam a agressão”, explicou. Ele disse que até a metade dos casaispermanecem juntos após a reeducação e com relatos de melhora na relação.

O SER não é oúnico grupo para agressores com bons resultados. De acordo com dados do JuizadoEspecial Criminal da Violência Doméstica contra aMulher de São Gonçalo (RJ), menos de 2% dos homens que praticam violência contraa mulher e participam de grupos de reflexão voltam a agredir suas companheiras.Nos 22 grupos já formados na cidade, passaram 236 homens e 60 aguardamnovas turmas, segundo dados da Central de Penas do município.