Mesmo sofrendo com a violência, mulheres protagonizam luta em favor de direitos humanos

07/03/2009 - 19h04

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Ao mesmo tempo em que as mulheres têmsofrido com a violência de maneira específica – o quemuitas vezes não é reconhecido pelas instituições -,elas têm se tornado fortes lideranças na defesa dosdireitos humanos. A avaliação é do pesquisadorda Anistia Internacional para temas relacionados ao Brasil, TimCahill. “Elas buscam sair da condição devítimas e passam a protagonizar soluções. Têma coragem, dedicação e, digamos, a paciência paraestar a frente da luta” afirmou em entrevista à Agência Brasil.A coordenadoraorganização não-governamental de mulheres negrasCriola , sediada na capital fluminense, a médica JuremaWernek, aponta o protagonismo dasmulheres na resolução de problemas das comunidades. Para Jurema, embora as mulheres ainda sejamameaçadas, humilhadas pelas diversas instâncias depoder, abusadas e até mesmo mortas na defesa dos direitos detodos, como mostram pesquisas, “não desistem porque têmum compromisso com a vida”.“As mulheres não recuam diante dosproblemas. Vão ao tribunal do tráfico, acompanham aPolícia - para impedir que agrida os detidos - e vãoaos tribunais de justiça. Apesar do medo, em nome docompromisso com a vida, fazem tudo”, afirmou.Na região metropolitana do Rio de Janeiro,a Associação de Familiares e Amigos das Vítimasde Violência na Baixada Fluminense é um exemplo damobilização de mulheres a partir de situaçõesde violência. Há quatro anos, movidas pelo desejo dejustiça, mães, irmãs e esposas de 29 mortosdurante uma chacina criaram a associação que hojetornou-se um movimento em defesa dos direitos humanos. A coordenadora da associação, adoméstica Cátia Patrícia da Silva, 34, destaca aparticipação feminina na organização.Segundo ela, as mulheres, “foram mais corajosas” e não seintimidaram com ameaças. Cátia conta que, no primeiromomento, elas se reuniram para cobrar indenizações, mas hoje auxiliam outras famílias que passam por situaçõessemelhantes a superarem o medo e o trauma da violência e aprocurarem a Justiça.Mãe Beata de Yemanjá, 78, de NovaIguaçu, na Baixada Fluminense, é outro exemplo de liderança feminina naluta contra a violência. Há décadas, ela trabalhaorientando mulheres vitimizadas e falando sobrecidadania. Os temas vão desde a importância da gravidezassistida, o acesso à creches até o problema dahomofobia. “Faz parte da minha tarefa como mulher negra, doCandomblé - onde nasci e me criei - , da minha identidade”,disse Mãe Beata. Promovendo seminários em parceria comgovernos e organizações não-governamentais eorientando pessoas nas suas casas ela acabou se tornou referência para uma redeinformal de terreiros, que, desde a década de 1980, buscapromover a cidadania nas localidades onde estão inseridosdivulgando informações sobre violência,preconceito, saúde e outros direitos.