Crise internacional frustra sonho brasileiro no Japão

07/03/2009 - 1h16

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A crise econômicainternacional está acabando com o sonho de milharesbrasileiros que buscavam no Japão uma vida melhor. Os chamadosdecasséguis,brasileiros que se fixam temporariamente no Japão paratrabalhar, geralmente nas indústrias, atraídos por bonssalários, estão voltando em massa para o Brasil. Nãohá números exatos sobre o número de brasileirosque voltaram nos últimos meses. No entanto, as agênciasbrasileiras especializadas na recolocação profissionalde decasséguis no país acusam um aumento de até15 vezes no volume de retornados em fevereiro, em comparaçãocom maio de 2008.“Em comparação com  meses atrás, hoje a volta está 15 vezes maior. A situaçãovem se agravando desde 1999, com a crise asiática. No Japão,uma crise imobiliária já atingiu o país nadécada de 90”, lembrou o consultor Renato Botuen, daRedeplan Alianças Estratégicas, agênciaespecializada em encontrar emprego no Brasil para os decasséguisque desistiram da vida no Japão.Estima-se que hoje 320mil brasileiros ainda trabalhem no Japão. Aproximadamente 180mil retornaram nos últimos anos, mas os brasileiros láresidentes são a terceira maior comunidade estrangeira nopaís. No entanto, a mudança de novos brasileiros para oJapão diminuiu abruptamente nos últimos meses.“Nosprimeiros meses da crise, de setembro a dezembro, caiuconsideravelmente o embarque de brasileiros para o Japão, maisda metade do movimento. E, de janeiro para cá, o movimentoquase zerou. Em dezembro, foram dois passageiros. Em janeiro efevereiro, não foi nenhum. Não temos perspectiva demandar ninguém por enquanto”, afirma Fábio MakotoDate, diretor da agência Shigoto, sediada em São Paulo,que levava brasileiros para trabalhar em empresas japonesas.Osdecasséguis, normalmente paulistas (60% saem de SãoPaulo, grande parte é oriunda do Paraná e hápequenos contingentes de Mato Grosso e do Pará), enfrentavamvida difícil no Japão, apesar dos bons salários.Recompensados por horas extras, os brasileiros chegavam a trabalhar12 horas por dia, com apenas uma folga semanal, em dia nãodefinido.Segundo Makoto, diminuiu muito o trabalho dosdecasséguis, que, antes da crise, faziam muitas horas extras.“Quando se fala em ganhar dinheiro no Japão, a pessoa tem deabrir mão de muita coisa e trabalhar muito. Como caiu aprodução no Japão, a primeira coisa que caiuforam as horas extras. Se não fizer hora extra, nãoguarda dinheiro. As pessoas que ainda estão empregadas,praticamente estão somente sobrevivendo no Japão”,relata Makoto.Nelson Tanigushi, operador de máquinasde bordar, retornou ao Brasil no início de 2009, depois detrabalhar mais de dois anos no Japão. Ele recebia cerca de R$30 por hora, mas, com a piora da situação japonesa, foium dos primeiros demitidos da empresa em que era empregado.“Eume senti um pouco frustrado, porque a gente se dedica e acontece umacrise dessa e nós somos os primeiros eliminados. Mas, mearrepender, eu digo que não: acho que valeu como experiência.Profissionalmente me arrependo, quando você volta ao paíse tenta se integrar na vida profissional no país émuito difícil”, ressalta Tanigushi.Os brasileiros edemais estrangeiros que trabalham no Japão têm situaçãotrabalhista bastante vulnerável. Com poucos direitos, sãoos primeiros a serem cortados ao primeiro sinal de crise. “Nãoexiste nenhum direito trabalhista resguardado para estrangeiros,devido ao fato de os brasileiros trabalharem para as empreiteiras[que contratam estrangeiros e terceirizam o trabalho nas empresasjaponesas] dentro das fábricas, como na própriaToyota”, destaca Makoto.Ele explica que ofuncionário da empreiteira não é, por exemplo,funcionário da Toyota. “Não tem nenhum vínculoempregatício com a Toyota. Então, em vez de cortar umfuncionário de dentro da empresa e ter de pagar todos osdireitos trabalhistas dele, eles vão optar por cortar osbrasileiros e os outros estrangeiros.”Os governosbrasileiro e japonês estão buscando alternativas para osdecasséguis que estão passando dificuldades no Japão.“Como os japoneses, os brasileiros no Japão têmdificuldades: Alguns perderam seus empregos, alguns perderam suamoradia. Então, estamos tentando apoiar os brasileiros nabusca do novo emprego e também da nova moradia, na educaçãode seus filhos”, afirma o ministro Tatsuo Arai, da Embaixada doJapão no Brasil.