Crise econômica alimenta “revanche” de quem se opunha à privatização

07/03/2009 - 10h47

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O remédioestatal para a crise financeira internacional adotado pelas economiascentrais do mundo está alimentando a revanche dos economistase políticos “estatistas” contra aqueles que, inspirados nocolapso do socialismo no final da década de 80 e noliberalismo norte-americano e inglês, passaram os últimos20 anos pregando a não-intervenção do Estado naeconomia.“É preciso, portanto, reconhecer evalorizar cada vez mais o papel de todos aqueles que resistiramarduamente à agenda do Estado mínimo nas últimasdécadas”, disse o presidente Luiz Inácio Lula daSilva, em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômicoe Social (CDES).O discurso do presidente se referia aosgovernos Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso,que privatizaram a partir de 1990 as empresas públicas dosetor siderúrgico, petroquímico, elétrico e detelecomunicações. Segundo o economista Carlos Alonso Barbosa deOliveira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o Estadonão pode ficar sem intervir neste momento de crise mundial.“Eles não podem deixar quebrar a economia”, diz. “Naeconomia capitalista não se vive sem crédito, porqueisso provoca recessão e queda brutal da renda, colocando emrisco a própria ordem estabelecida”, afirma, referindo-se àcrise dos anos 30 e aos regimes totalitários que se seguiram(nazismo e fascismo).A intervenção do Estado naeconomia no momento negativo é uma receita aprendida naprimeira grande crise global em 1929, quando as economias dos paísesmais ricos entraram em depressão. Segundo Oliveira, existe apossibilidade até de os Estados Unidos e a Inglaterraestatizarem bancos sob ameaça. “Não éideologia estatizante, mas a única alternativa que eles estãovendo.”Oliveira destaca que o investimento estatal foiimportante para o êxito recente de países como a Coréiado Sul e a China, que se desenvolveram rapidamente num períodode grande euforia com as privatizações. “Todos ospaíses retardatários que se industrializaram no Século20 tiveram forte presença das empresas estatais”, diz.O economista explica que os governos coreano echinês atuaram em segmentos com grande necessidade deinvestimentos, retorno financeiro demorado e, portanto, com riscoselevados. “O capital privado topou aumentar o investimento paracomprar empresas prontas. O investimento novo, o capital privado temresistências até hoje”, afirma.Para economista Roberto Ellery, professor daUniversidade de Brasília (UnB), a privatizaçãobrasileira dos anos 90 foi bem sucedida. “O Brasil hoje émuito melhor do que aquele dos anos 80 em qualquer indicador, comexceção da violência urbana”, defende.Ele ressalta que o desenvolvimento econômicode um país vai muito além da criação deindústrias e depende da capacidade de ser eficiente. “O quediferencia uma economia desenvolvida de uma economia subdesenvolvidaé quanto essa economia consegue produzir em uma hora detrabalho”, acrescenta Ellery.O presidente do Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, acredita que “osmercados voltarão a ter papel importante no financiamento daeconomia brasileira”. Para ele, os projetos de infra-estruturapodem ter “alto retorno” e “risco baixo”. Coutinho ressalta que as recentes intervençõesestatais no mercado financeiro internacional não eramprevistas e as considera “extraordinárias, em funçãodo colapso” de grandes bancos. Em sua opinião, esse tipo deintervencionismo não será necessário no Brasil,onde o “sistema financeiro está robusto e sólido”.Asentidades sindicais esperam que as medidas adotadas pelo governobrasileiro mantenham o crescimento da economia. O receio é queos problemas levem a mais demissões. “As medidas adotadasnão deram nenhuma garantia de emprego. Essa é aprincipal reivindicação da CUT [Central Únicados Trabalhadores] se o governo renovar a reduçãode IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] para asmontadoras", diz o secretário-geral da entidade, QuintinoSevero.Para ele, a intervenção do Estado noatual cenário de crise econômica internacional éfundamental e preventiva. “Neste momento, a presença doEstado tem-se revelado importante, porque, se não houvesseintervenção firme do Estado nos setores financeiro eautomotivo, certamente a crise estaria muito mais grave e odesemprego estaria muito maior.”