Crise resgata papel de agências multilaterais, diz futuro vice-presidente do Banco Mundial

06/03/2009 - 18h57

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A crise financeira mundial resgatou o papel das agências multilaterais, disse hoje (6) o futuro vice-presidente do Banco Mundial (Bird) na área de redução da pobreza, Otaviano Canuto. Durante apresentação no seminário do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social que discute a crise, ele afirmou que a queda no fluxo internacional de dinheiro aumentou a demanda por recursos administrados por essas instituições.As agências multilaterais são organismos com representantes de vários países que financiam projetos de desenvolvimento ou fornecem ajuda a nações em dificuldade financeira. Os exemplos mais famosos são o Fundo Monetário Nacional (FMI), o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).Canuto afirmou que, nos anos anteriores à crise econômica, as agências multilaterais estavam se tornando desnecessárias. “Com o capital correndo para os países emergentes, essas instituições passavam pelo dilema de justificar a estrutura existente”, recordou Canuto, que acabou de sair da vice-presidência do BID.Após o agravamento da instabilidade financeira, relembrou o economista, os países voltaram a atenção para as agências multilaterais, mas o aumento da demanda também trouxe problemas. “Agora, a demanda aumentou tanto, que o capital se exauriu em pouco tempo. Hoje, os limites de financiamento estão cada vez mais saturados”, ressaltou.Para ele, a multiplicação dos pedidos de financiamento deve ser analisada com cuidado para evitar que recursos sejam gastos desnecessariamente apenas para estimular a economia em dificuldade nos países desenvolvidos. “O papel dessas agências é financiar projetos que tragam impacto sobre o desenvolvimento econômico e social de um país, principalmente nas nações emergentes”, acrescentou.Na opinião do economista, tanto o BID como o Banco Mundial devem dar prioridade a investimentos em infra-estrutura nos países em desenvolvimento, onde os empreendimentos, segundo ele, são mais capazes de fazer diferença. Ele também sugeriu o aumento nos empréstimos para o desenvolvimento de projetos que usem fontes de energia limpa.Em relação à viabilidade dos projetos, Canuto disse que o Brasil está em vantagem na comparação com os países desenvolvidos por causa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “O Brasil tem a felicidade de ter um PAC neste momento, o que trouxe um planejamento para os investimentos públicos, enquanto países avançados querem gastar em infra-estrutura, mas não têm projetos em mão”, apontou.O economista recomendou ainda que o Brasil atue para que os países desenvolvidos possam voltar a obter recursos diretamente do mercado financeiro, o que diminuiria a pressão sobre as agências multilaterais. Ele também defendeu que o país trabalhe para aumentar a participação dos países emergentes nesses organismos internacionais.