Queda de arrecadação pode ser compensada por corte de juros, afirma Ipea

04/03/2009 - 16h39

Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A melhor política que o governo federal pode adotar para enfrentar a queda de arrecadação esperada para 2009 é o corte na despesa com juros. Esta é a conclusão do estudo A Gravidade da Crise e a Despesa de Juro do Governo, divulgado hoje (4) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).“É possível enfrentar a crise mantendo ou ampliando os gastos do governo sem desorganizar as finanças públicas. Basta fazer algo que já está sendo feito pelo mundo inteiro: reduzir a taxa de juros”, declarou o diretor de Estudos Macroeconômicos (Dimac) do Ipea, João Sicsú, responsável pelo estudo. O estudo projeta sete cenários, para concluir que, entre eles, o melhor a ser feito seria baixar em 1% a taxa da Selic até setembro, e em outubro, reduzir em mais 0,75%. “Com isso chegaríamos em outubro de 2009 com uma taxa de 7% ao ano, contra os atuais 12,75%. Isso representaria uma economia fiscal de R$ 30 bilhões”, explicou Sicsú.Segundo o pesquisador do Ipea, muitos especialistas dizem que a queda de arrecadação prevista para o período seria de R$ 25 bilhões. “Reduzir a taxa de Selic, de forma que ela chegue ao patamar de 7% em outubro não é algo diferente do que poderia ser esperado em um momento de crise. Muito pelo contrário. Seria uma forma de se enfrentar a crise de maneira contundente, mantendo inclusive o orçamento contábil das finanças públicas."“Mas não podemos cortar gastos sociais nem gastos com investimentos, porque estes são tipos de gastos públicos que têm efeitos multiplicadores consideravelmente altos, que colaboram para o enfrentamento da crise”, enfatizou Sicsú. “Devido ao processo e ao cronograma das obras de engenharia, os gastos com investimentos apresentarem resultados numa velocidade inferior à dos gastos sociais, mas não há dúvidas de que eles atacam de forma efetiva algumas faces da crise.” “Gastos sociais, como o Bolsa Família e os com a Previdência, são transformados imediatamente em gastos com consumo, ajudando a movimentar a economia e, de forma bastante rápida, apresentam efeitos multiplicadores consistentes”, argumentou.Para Sicsú, a inflação não representa risco para o Brasil nem para nenhum outro país. “A crise afetou a demanda, e é ela que está segurando os preços”, disse. Dessa forma, afirmou, o Banco Central já tem condições de ser mais ambicioso e acelerar a queda da taxa Selic.“Acredito que a inflação não ultrapassará os 4% em 2009. O próprio mercado financeiro, com todo o seu conservadorismo, prevê uma inflação de no máximo 4,6%. A preocupação maior é a com o desemprego, porque ele acarreta em mais efeitos negativos para a economia, juntamente com a apreensão tanto de empresários, que passaram a engavetar os projetos de investimentos, como dos trabalhadores, que temendo o desemprego reduzem o consumo”, argumentou Sicsú.