Abuso de criança e adolescente é sempre cometido por conhecidos da vítima, mostra estudo

04/03/2009 - 6h48

Akemi Nitahara
Repórter da Rádio Nacional
Brasília - Uma pesquisa feita pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió (Cesmac) mostra que o crime deabuso sexual de crianças e adolescentes sempre é cometido por pessoasconhecidas da vítima. De acordo com o levantamento, feito com base em denúncias apresentadas na cidade entre 2002 e 2007, o padrasto aparece em primeiro lugar como agressor. "Tivemos 311 casos e em primeiro lugar no ranking de abusadores afigura que aparece é a do padrasto, seguido de tios e avós. Ou seja, sempre pessoasvinculadas à família", diz o professor de psicologia Liércio Pinheiro, que coordenou a pesquisa. Ele também explica que abuso sexual é diferente de pedofilia, porque nem todo agressor que comete abuso é um pedófilo."A pedofilia, para a psicologia e a psiquiatria, é umdistúrbio. O pedófilo é aquele que tem um comprometimento mental, quetem um desejo incontrolável por criança. Então, nem todo mundo queabusa sexualmente de uma criança sofre desse distúrbio que é apedofilia", explicou o professor . Deacordo com ele, o aumento no número denúncias de abusos abuso sexual de crianças e adolescentes nos últimos anos não reflete o crescimento do número de casos e sim a conscientização dasociedade."O abuso sempre houve. O que nós estamospresenciando agora, principalmente com a ajuda da mídia em divulgar oabuso sexual para a sociedade, é um maior esclarecimento dasfamílias, principalmente para que a mãe e outros familiares possamestar atentos para fazer denúncia", avaliou Liércio.Segundo ele, a criança que sofre abuso sexual normalmente apresenta alguns sintomas, alterações de comportamento que podem ser observadas pelos familiares."Choro repentino, depressão, agressividade. Deve-se observar o comportamento dela [da criança] emcasa, se há uma alteração na sua rotina e, principalmente, seela apresenta crises de choro sem motivos aparentes", alertou.Em Alagoas, as vítimas de abuso sexual sãoatendidas pelo Centro de Apoio às Vítimas de Crime. Uma dascoordenadoras do centro, Taísa Costa, explica que as crianças eadolescentes recebem um atendimento interdisciplinar, com advogado,assistente social e psicólogo."O setor jurídicoprovidencia a parte jurídica, o que é preciso fazer nesse âmbito de delegacia e do Poder Judiciário. Oserviço social tenta verificar se a vítima já foi ao posto de saúde para atendimento especializado em  relação às DST [Doenças Sexualmente Transmissíveis], se ela tem adocumentação completa, se está estudando, onde foi o crime, seprecisa mudar de endereço. O setor psicológico tenta o que a gentechama de reestruturação emocional da vítima", explicou.De acordo com a coordenadora, o número de casos atendidos aumentou muito nos últimos anos, mas poderia ser ainda maior. "É um crime que quando é praticado por alguém externo, por umdesconhecido, é uma violência urbana, mas quando é no ambiente doméstico,fica muito no muro do silêncio, entre quatro paredes. Existe muitaameaça por trás disso, então o medo de denunciar é muito grande", afirmou. Desdeque foi criado, em 2003, o Disque 100, que registra casos de violência contracrianças e adolescentes, já encaminhou quase 90 mil denúncias em todo oBrasil. Só este ano, já foram 4,7 mil registros, 31% deles relativos à violência sexual, 35%  à negligência e 34% a casos de violência física e psicológica.Dos casos de violência sexual, quase 60% são de abuso seguido de exploração sexual comercial.ODistrito Federal é a unidade da Federação que mais denunciaproporcionalmente à sua população. Alagoas aparece em 18º lugar.Por último está o Amapá.Quem comete abuso sexual contracrianças e adolescentes é indiciado por estupro ou atentado violento aopudor. A pena para o crime varia de seis a dez anos de reclusão, com aumento em até metade do período dependendo das circunstâncias do crime.