Vítimas de pedofilia em Catanduva fazem acompanhamento psicológico

03/03/2009 - 11h13

Elaine Patricia Cruz
Enviada Especial
Catanduva - Depois das denúncias da existência de uma rede de pedofilia na cidade paulista de Catanduva, as crianças que foram vítimas de abuso sexual e seus pais fazem hoje acompanhamento médico e psicológico para tentar superar o trauma e voltar às atividades habituais. Apesar desse acompanhamento, que é feito uma vez por semana, muitas das crianças ainda não conseguem falar muito sobre o que ocorreu e apresentam um comportamento estranho ao que era comum antes dos abusos."Eles estão muito revoltados. A impaciência e a intolerância são ainda muito grandes", definiu à Agência Brasil um jardineiro morador do Jardim Alpino, pai de três crianças – uma de 10, outra de 8 e a última de 5 anos de idade – todas vítimas de abusos sexuais. Segundo a esposa dele, que é faxineira, uma das crianças também tem dificuldades para dormir. "Ele chora", diz ela, também chorando. O pai disse que percebeu que os filhos estavam sendo vítimas de abusos sexuais em outubro do ano passado, quando as crianças apresentaram mudança no comportamento."Em outubro, o meu menino começou a ficar nervoso, a demonstrar nervosismo em casa. Não podia encostar [nos meus filhos] que eles já brigavam. E aqui em casa [o clima] sempre foi de harmonia. Começamos a notar que eles pioraram na escola. Minha menina não tinha mais coragem de ir ao banheiro sozinha, acordava à noite em desespero", relatou.Tudo teria começado em julho, quando o filho mais velho o procurou dizendo que queria aprender a consertar bicicletas e a fazer pipas com um borracheiro da cidade, que foi mais tarde reconhecido pelas crianças como um dos abusadores e que hoje está preso em São José do Rio Preto. Antes de autorizar o filho de freqüentar o local, o jardineiro procurou o borracheiro, não percebendo nada de anormal, conversou com a esposa e ambos permitiram que ele fosse à borracharia, que fica próximo de onde moram."Para mim, ele [o filho] aprendendo a arrumar bicicleta e a fazer pipa, ele iria se distrair. Ele ia arrumar um tempo para ele, porque eu sinceramente não tinha esse tempo", contou.Percebendo o comportamento estranho dos filhos, os pais passaram a perguntar o que estava ocorrendo, mas não obtinham resposta. "A gente perguntava e eles não falavam porque eram fortemente ameaçados."Quando os sinais de abuso já eram evidentes, os pais decidiram procurar as autoridades locais para fazer a denúncia, mas tiveram dificuldades para registrar o caso na Delegacia da Mulher da cidade. Indignados e contando com a ajuda de uma organização não-governamental, eles optaram em chamar a atenção dos meios de comunicação, o que deu início a duas linhas de investigação policial. Na última quinta-feira, seus três filhos tiveram que ir até a delegacia para fazer o reconhecimento de oito suspeitos dos abusos. Quatro deles foram presos temporariamente. Entre os depoimentos na polícia, o acompanhamento psicológico e as sessões de reconhecimentos dos criminosos e de casas onde teriam ocorrido os abusos, as crianças voltaram a freqüentar a escola, mesmo com medo.  Segundo os pais das três crianças, tudo mudou na vida deles após os abusos. "Nossa convivência está bastante afetada", define o pai. "Para reparar tudo isso, vai levar um bom tempo".