PGR diz que investiga “sem preconceito” os dois lados da violência no campo

03/03/2009 - 21h04

Marco Antonio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Oprocurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, dissehoje (3) que o Ministério Público Federal jáinvestiga há algum tempo a utilização de repasses governamentais para financiar invasões de propriedades pormovimentos de trabalhadores rurais, bem como a responsabilidade pelaviolência dos conflitos no campo. Na última semana, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, ao dar entrevista à imprensa sobre asinvasões de terra feitas pelo Movimento dos TrabalhadoresRurais Sem Terra (MST) no feriado de carnaval, cobrou providências e uma atitude enérgica do MPF. Para o procurador, “talvez tenhahavido desconhecimento” do ministro. Souza ressaltou que o MPF analisa osfatos com serenidade e com a preocupação de nãocriminalizar apenas uma das partes envolvidas. “O conflitoagrário é algo extremamente complexo. Não podeser resolvido com afirmação solta numa entrevista. Éum caminho de duas vias, tem violência de todos os lados”,afirmou o procurador. “O MP já trabalha nesse assunto hámuito tempo sem estardalhaço, para ao final emitir o seujuízo. Esse trabalho não é só emPresidente Prudente, mas em Alagoas, Góias, Pernambuco. Naperspectiva de defesa do patrimônio publico, dos direitoshumanos, dos trabalhadores vítimas de violência. O MPnão tem preconceito. Atua no conflito em termos globais”,acrescentou.Um levantamento divulgado pela Procuradoria daRepública em Pernambuco indica a existência de pelomenos quatro processos e dois inquéritos para apurar desviosde recursos federais destinados a assentamentos geridos porassociações e cooperativas agrícolas. EmAlagoas, de acordo com informações daProcuradoria da República no estado, há açõesde reintegração de posse, inquéritos sobredepredação de prédios públicos evandalismo por parte do MST, bem como sobre ameaças de mortecontra integrantes dos movimentos. O procurador evitouresponder diretamente um questionamento a respeito da eventualconveniência da manifestação de Mendes. “Eunão faço julgamento de autoridade. Cada uma age nospadrões que acha que deve agir. Eu gosto de ter primeiroconhecimento amplo. Não é porque está envolvidoa, b ou c que possa pertencer a uma organização, quetoda a organização está envolvida”, disseSouza. O procurador disse que, pessoalmente, prefere nãoconceder entrevistas constantemente pela natureza do cargo que ocupa.“Eu acho que o PGR tem que transmitir para a sociedade que temsegurança do que faz. Eu jamais deixei de fazer o que deveriaser feito. Eu costumo falar e assinar embaixo.”Sem citarnomes, o procurador admitiu que há autoridadespúblicas no Brasil que se intrometem em assuntos fora de suaalçada.“O Estado brasileiro seria melhor se cadaautoridade exercesse apenas suas próprias atribuições”,afirmou Souza.