Mães da Sé alertam: desaparecidos no Brasil podem passar de 200 mil por ano

01/03/2009 - 1h50

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Todos osanos, mais de 200 mil pessoas desaparecem no Brasil – 40 mil sãocrianças e adolescentes. Dez a 15% nãoretornam para seus lares. O perfil de desaparecidos,de acordo com Ivanise Santos, presidente da AssociaçãoBrasileira de Busca e Defesa das Crianças Desaparecidas(ABCD), são menores de origem pobre, de pele clara e muito bemafeiçoados, mas sem uma faixa etária definida.

Mãede uma menina desaparecida há 13 anos, Ivanise acredita que onúmero de pessoas desaparecidas pode ser ainda maior, sobretudo nas Regiões Norte eNordeste, onde existem famílias que por desconhecimento não procuram uma delegacia para registrar o desaparecimento de umparente.

“Outrodia, recebi uma mãe cujo filho estava desaparecido há30 dias e ela não tinha feito o boletim de ocorrência.Ela começou a procurar o filho pelos hospitais e ruas mas nãosabia que tinha que ir à delegacia. É raro, mas aindaacontece”, disse, em entrevista à Agência Brasil.

Ivaniseafirmou que as autoridades brasileiras ainda deixam decumprir o que é previsto em lei para os casos de desaparecimento.Ela acredita que o sumiço de uma pessoa é visto, na maioria das vezes, apenascomo mais um número que alimenta as estatísticas. A Lei11.259/06 prevê que toda delegacia, ao registrar uma ocorrênciade criança ou adolescente desaparecido, deve começaruma busca imediata, além de acionar aeroportos, portos eterminais rodoviários.

“Apolícia não pode alegar o desconhecimento da lei. NossaConstituição é bem clara quando diz que acriança e o adolescente são responsabilidade dafamília, do Estado e da sociedade. Há umdescaso e um abandono muito grande”, afirmou.

Apesar dodesaparecimento de uma pessoa não ser enquadrado como crime,Ivanise alertou que há relatos de crianças eadolescentes desaparecidos ligados ao tráfico de órgãos,de pessoas, de drogas e também àadoção ilegal e à exploração sexual.

Ascircunstâncias em que ocorre o desaparecimento, segundo ela,são similares na maioria dos casos e demandam atençãopor parte dos responsáveis. Crianças e adolescentes geralmentedesaparecem enquanto brincam na porta de casa, quando fazem opercurso de ida ou de volta da escola ou quando saem para fazer compras em estabelecimentos comerciais próximos de onde moram.

“Aprevenção é primordial e a criança,atualmente, é muito inteligente. Se você conscientizar oseu filho dos perigos que corre, ele não desaparece. Sãocoisas simples como ensinar o número do telefone e o endereçode casa, o nome do pai e da mãe, ensinar a não darinformações para qualquer pessoa estranha que seaproxime dele oferecendo uma bala ou um brinquedo. Procure saber quemsão os amigos do seu filho e nunca deixe ele sair de casadesacompanhado”, orientou.

Aprimeira providência a ser tomada, caso um menor desaparecidoseja identificado, é entrar em contato com o serviço deDisque-Denúncia local ou mesmo para o 190. Ivanise destacouque a pessoa não precisa se identificar, mas apenas ter aconsciência de que aquela criança ou adolescente temuma família que está à procura dela.

Aassociação, também conhecida como Mães daSé, realiza um ato nas escadarias da Praça da Sé,em São Paulo, amanhã (2), às 16h30. Mãesde crianças e adolescentes desaparecidos farão umamanifestação silenciosa segurando fotos de seus filhosnas escadarias da catedral.