Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A queda de braço entre os produtores rurais e o governo central argentino, iniciada há um ano, não terminou, mas pode estar perto de uma trégua. Após três horas de reunião com entidades ruralistas, hoje (24), a equipe de Cristina Kirchner acabou cedendo e fechando acordos parciais em alguns setores.Segundo a agência argentina de notícias Telam, a ministra da Produção, Debora Giorgi, anunciou que reduzirá as retenções sobre as exportações de produtos lácteos, mas não cogita fazer o mesmo com soja, milho, trigo e girassol. Também decidiu impulsionar a produção de novilhos para exportação.Há meses os ruralistas pressionam o governo pela redução de impostos sobre exportações de grãos e por ajuda aos setores prejudicados pela pior seca das últimas quatro décadas e pela queda nos preços internacionais das commodities. As perdas estimadas pelo setor, para 2009, são de US$ 12,51 bilhões. No setor de grãos, a projeção é de recuo de 44% em relação a 2008, especialmente na produção de trigo, milho, girassol e soja, com perda da ordem de US$ 10 bilhões. No caso dos produtores de leite, a estimativa é de que deixem de faturar US$ 677 milhões devido à política de preços do governo e outros US$ 260 milhões em razão da seca. Já as perdas estimadas para a pecuária são de US$ 1,49 bilhões.Na semana passada, os produtores decidiram paralisar o comércio de grãos e gado, como forma de protesto. Ontem (23), cerca de 250 ruralistas ocuparam uma agência bancária na cidade de Hasenkamp (província de Entre Rios), exigindo a rolagem das dívidas e a redução dos juros dos empréstimos. No ano passado, os produtores rurais promoveram um locaute de mais de 100 dias contra o aumento dos impostos às exportações de grãos. As novas regras acabaram sendo derrubadas pelo Congresso argentino em julho de 2008, com voto de minerva do vice-presidente do país e também presidente do Senado, Julio Cobos.Apesar da derrota de Cristina Kirchner, o embate entre produtores e governo continuou. O diálogo de hoje apaziguou um pouco os ânimos. De acordo com a Telam, os ruralistas saíram satisfeitos com o início das negociações. “Podemos dizer que começou uma etapa de diálogo”, afirmou o presidente da Federação Agrária Argentina, Eduardo Buzzi, ao final da reunião. Mas ressaltou: “Ainda estamos muito distantes de satisfazer tudo o que pedem os produtores”. As conversas prosseguirão na próxima semana.Do encontro de hoje, além de Buzzi, participaram pelo lado do agronegócio os presidentes da Sociedade Rural (SRA), Hugo Biolcati, da Confederações Rurais Aregntinas(CRA), Mario Llambías, da Confederação Intercooperativa Agropecuária (Coninagro), Carlos Garetto. Pelo lado do governo argentino, estiveram presentes os ministros de Produção, Debora Giorgi, e do Interior, Florencio Randazzo, e o secretário de Agricultura, Carlos Cheppi Mientras.