Lideranças tradicionais acusam manifestantes de defender interesses de não-índios

19/02/2009 - 21h46

Vinicius Konchinski
Repórter da Agência Brasil
Dourados (MS) - Liderançasindígenas tradicionais da região sul de Mato Grosso do Sul afirmam queo grupo de índios que acampa há 24 dias em frente ao escritório daFundação Nacional do Índio (Funai) em Dourados (MS) defende interessesde não-índios. Segundo eles, os cerca de 40 manifestantes que pedema saída de Margarida Nicoletti da chefia da Funai na cidade querem tumultuar o processo de demarcação de terras indígenas iniciado em julho do ano passado.Deacordo com Anastácio Peralta, índio guarani-kaiowá e membro da ComissãoNacional de Política Indigenista (CNPI), Margarida foi a primeiraadministradora regional da Funai de Dourados que se comprometeu aampliar as terras indígenas da região. Foi em sua gestão que a Funaifirmou um compromisso com a Procuradoria da República de demarcar áreasde ocupação tradicional das etnias guarani-kaiowá e guarani-nhandeva - fato que foi alvo de críticas de entidades que representam osprodutores rurais e também de políticos sul-mato-grossenses.“Eles[os manifestantes] articularam o protesto com políticos contra ademarcação”, afirmou Peralta, em entrevista à Agência Brasil. “Elesdizem que querem melhorar as cestas, facilitar a retirada dedocumentos, mas isso é um projeto sério? Índio precisa é de maisterras.”O cacique guarani-kaiowá Getúlio Juca de Oliveira tambémacredita em articulação política dos manifestantes. “Eles são muitopoucos, não representam a maioria. Os políticos combinaram com alguns,que combinaram com outros, e eles foram para lá.”Em comunicadoenviado à imprensa, o Comitê Indigenista Missionário (Cimi) de Douradosafirma que os protestos pela saída de Margarida representam “interessespolíticos dos não-índios que querem prejudicar a atual administração[da Funai]”.Hoje, em entrevista à Agência Brasil, Dirce Veron, umadas líderes da manifestação, afirmou que as acusações contra oprotesto querem “mudar o foco real da discussão”. Filha docacique kaiowá Marcos Veron, assassinado em 2003 durante conflitos porterra, ela disse que nenhum dos manifestantes acampados deseja barrar aampliação das terras indígenas do sul do estado.“Meu pai morreupela terra. Você acha que não quero mais terras para nosso povotambém?”, disse. “Eu só não concordo com a forma que a Funai estáquerendo demarcar essas áreas. Não quero mais ver índios morrendo porcausa terra na região.”Sobre uma suposta influência política noprotesto, a índia Beth Moreira, que foi candidata a vereadora deDourados pelo partido Democratas, afirmou que a suspeita não temfundamento. Ela disse que os manisfestantes são representantes de suascomunidades e a única ajuda de não-índios que o protesto recebeu foi dapopulação que prestou solidariedade por meio de doação de alimentos.