Crise financeira de 2002 foi mais perigosa para o Brasil do que a atual, diz Armínio Fraga

20/01/2009 - 19h31

Aziz Filho
Repórter da TV Brasil
Rio de Janeiro - O investidor Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, disse em entrevista hoje (20) ao telejornal Repórter Brasil que, apesar de a crise financeira internacional ser a pior da história mundial, ela é menos perigosa para o Brasil do que a de 2002, quando o mercado financeiro reagiu mal à iminência da primeira vitória do Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições presidenciais.“São crises diferentes. Do ponto de vista internacional, essa é a maior, a mais perigosa também. Felizmente, a resposta que os países vêm dando é igualmente espetacular. No Brasil, a crise de 2002 foi maior, bem mais complicada, porque nós éramos o epicentro”, disse Armínio Fraga, que integra o conselho do Grupo dos 30, formado por economistas que formulam um projeto de reforma do sistema financeiro internacional. Segundo ele, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, está à altura da grande expectativa criada em torno do sonho americano de reunir, em seu governo, as qualidades dos ex-presidentes Abraham Lincoln, Franklin Rossevelt e John Kennedy. O discurso de posse, segundo ele, “deve ter atingido bem os espíritos mais deprimidos neste momento de crise nos Estados Unidos”, apontando para um mundo livre, aberto e cheio de esperança. Apesar de classificar como arriscado o alto grau de expectativa em torno das medidas enviadas ao congresso americano para estimular o crescimento da economia, Armínio Fraga acha que a eventual demora dos congressistas não deverá tornar as medidas inócuas. Ele espera ações em relação aos gastos públicos e redução de impostos e calcula que o pacote atinja US$ 1 trilhão em dois anos. “É preciso colocar dinheiro em circulação outra vez.”O objetivo do Grupo dos 30, segundo Armínio, é redesenhar o sistema financeiro internacional para que não se repitam crises como a atual. O estudo parte do princípio, segundo ele, de que “o modelo ultra-liberal acabou” e que é preciso dar mais transparência à atuação dos bancos. Nos países ricos, eles continuam sob alta tensão, em “situação de emergência”, mas nem tanto no Brasil, segundo ele, porque o País vive outro momento do ciclo de crédito. “O Brasil não participou dessa bolha de crédito, do crescimento alavancado, e vive uma fase inicial de expansão de crédito.” Além disso, diz Fraga, a situação brasileira seria de “relativa tranquilidade” porque, depois da crise de 2002, o governo Luiz Inácio Lula da Silva soube aproveitar o “céu de brigadeiro” da economia internacional” e tomou as medidas adequadas. É preciso, no entanto, segundo ele, tomar cuidado para que isso não aconteça. “Não dá para cochilar ,não”.Armínio Fraga evitou fazer coro aos que pressionam o Banco Central para baixar as taxas de juros amanhã para evitar uma recessão. Segundo ele, o BC brasileiro tem sido flexível, tanto que a inflação subiu, mas ficou dentro da meta estipulada pelo governo de 6,5% no ano. Mesmo assim, ele acha que a tendência é de baixar os juros. A equipe econômica, segundo ele, tem feito muito para evitar o agravamento da situação. “Não penso que seja possível evitar totalmente o impacto da crise.” Ele ressaltou que o crescimento dos gastos públicos desde o governo Fernando Henrique Cardoso “não deixa espaço para uma expansão fiscal”, mas afirmou que a escassez de crédito não é o único problema do Brasil: falta investimento em setores estratégicos como a educação, para melhorar a mão de obra. Ele defendeu mais investimentos públicos, em detrimento do custeio.Na entrevista, que vai ao ar na edição de hoje do Repórter Brasil (às 21h), Armínio Fraga aceitou o desafio de dar sugestões ao governo Obama e reiterou a defesa da reforma do sistema financeiro. Ex-parceiro do megaespaculador George Soros, Armínio Fraga afirmou que “o capitalismo selvagem é cheio de problemas e muito propenso à crise. “É uma ilusão achar que um sistema financeiro com liberdade total vai entregar um bom resultado. Não é assim.”