Tenente diz que só queria dar um “susto” nos jovens executados em favela no Rio

03/07/2008 - 23h19

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A Justiça Federal conclui amanhã (4) o interrogatório dos 11militares do Exército envolvidos na morte de três jovens do Morro daProvidência, no dia 14 de junho. Hoje (3), foram convocados para serinterrogados seis deles: o tenente Vinicius Ghidetti, os sargentos Leandro MaiaBueno, Bruno Eduardo de Fatima e Renato de Oliveira Alves, e os soldados Jose Ricardo Rodrigues de Araujo e Julio Almeida Ré. Amanhã (4) serão ouvidosos soldados Rafael Cunha da Costa Sá, Sidney de Oliveira Barros, Fabiano Eloidos Santos, Samuel de Souza Oliveira e Eduardo Pereira de Oliveira.Os militares chegaram ao prédio da Justiça Federal, no centro do Rio, fardados e sob forte esquema de escolta do Exército.Interrogado pelo juiz da 7a Vara FederalCriminal, Marcelo Ferreira Granado, o tenente Ghidetti disse que o objetivo erasomente dar “um susto” nos três rapazes, que teriam desacatado os militares no Morro daProvidência. “Não esperava que fosse ter esse desfecho. Só queriaamedrontar. A vida é um bem precioso. Eu nunca trocaria a vida de três rapazespela minha moral.”Ao falar de sua família, Ghidetti chorou e negou que tenhaentregue os jovens aos traficantes do Morro da Mineira, dizendo que eram “umpresentinho”. Ele afirmou, no entanto, que, ao deixar o morro, viram que osrapazes estavam apanhando dos traficantes.Em seguida, o juiz interrogou o sargento Maia, acusado peloMinistério Público Federal (MPF) de ter saído do caminhão para negociar com oscriminosos da favela da Mineira na subida do morro. Ele primeiro sustentou que foi aoencontro dos traficantes para dizer que o veículo havia tomado o caminho erradoe negou que negociou a entrega dos rapazes. Mas ao ser inquirido pelo juiz, acaboucaindo em contradição e reconheceu que pediu para darem um corretivo nos trêsjovens.Os depoimentos se iniciaram no início da tarde eprosseguiram na parte da noite. O advogado do tenente, Luiz Carlos Azenha,revelou que deu entrada com um habeas corpus e com uma medida de trancamento deação penal por conflito de competência. Ele defende que os militares nãoestavam regularmente em serviço no momento da operação, o que remeteria o casoà Justiça estadual e não federal. O mesmo entendimento de conflito decompetência é defendido pelo advogado Walmar Flávio de Jesus, que representa osargento Maia.Todos os acusados respondem por homicídio triplamente qualificado poruso de crueldade, motivo banal e sem chances de defesa para as vítimas.Os militares são acusados de entregar a traficantesdo Morro da Mineira três jovens moradores do  Morro da Providência, queapareceram mortos em um lixão na Baixada Fluminense. Os traficantes quetorturaram e assassinaram os jovens ainda não foram presos.