Ciclo crescente de investimentos vai exigir recursos de longo prazo, analisa economista

17/06/2008 - 23h51

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O ciclo de investimentos em andamento no Brasil vai pressionar por uma demanda forte por recursos de longo prazo, afirmou hoje (17) o superintendente da Área de Pesquisa e Acompanhamento Econômico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Ernani Teixeira Torres Filho. Ele disse que  os canais de financiamento que estão mais claros para a indústria e a infra-estrutura “são recursos próprios e do BNDES, que são os canais clássicos”. O economista participou do seminário comemorativo aos 56 anos do BNDES,  que abordou  o financiamento de longo prazo e os bancos de  desenvolvimento.Torres reconheceu que os mercados de modo geral têm feito contribuições importantes para o aumento de investimentos no país, em especial o mercado acionário. Analisou,  entretanto, que o mercado de ações tem limitações,  porque é muito dependente  do exterior. Acrescentou que o mercado de títulos e a captação externa também não mostraram ser canais importantes até o momento.Ele destacou a importância  do fortalecimento dos fundos públicos de médio e longo prazos como instrumento “para permitir que esse  processo de investimento possa ter continuidade, sem interrupções ou custos crescentes”. A maior internacionalização das empresas brasileiras  vai requerer, a seu ver,  atenção a aspectos como volatilidade, câmbio e  controle do processo. Advertiu ainda para a necessidade de se fortalecer não só os mecanismos públicos, mas todos os outros  mecanismos de financiamento  que possam ser acessados no longo prazo.Estudo realizado pelo BNDES revela que  a formação bruta de capital fixo (FBCF), isto é, o investimento, crescerá no Brasil em torno de 11,8% ao ano em média no período de 2008 a 2011. Nesse cenário, o crescimento da indústria  será de 12,4% ao ano, da infra-estrutura 13,2%/ano e da construção residencial de 10,7% ao ano. As áreas de indústria e infra-estrutura concentrarão 70% dos investimentos no período. A meta é que a taxa de investimentos alcance 21% do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma das riquezas produzidas no país, em 2010, considerando-se um crescimento de 5% ao ano do PIB.O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirmou que o atual ciclo de investimento “vigoroso” que se percebe no Brasil tem se espalhado por um grande número de setores. O resultado é o aumento da demanda por financiamento e também por capitalização empresarial. Esse movimento de elevação do investimento impõe um desafio, acentuou Coutinho, afirmando mais adiante que “com sabedoria, esse momento (de investimento crescente) se sustentará ao longo de muitos anos”.Lembrou que em ciclos de investimento no passado, a deficiência de um sistema  interno de financiamento adequado levou o empresariado a procurar no mercado externo de capitais processos suplementares de crédito que tiveram um papel importante de um lado, mas levaram a um processo de endividamento do setor privado e de exposição  dos balanços das empresas a riscos cambiais. Por essa razão, ele destacou a importância de haver uma base doméstica de financiamento que seja “dinâmica, sofisticada e capacitada, para responder às necessidades de financiamento” do setor produtivo.