Óleos vegetais do Amazonas serão matéria-prima para empresas da Zona Franca

10/05/2008 - 12h03

Amanda Mota*
Repórter da Agência Brasil
Manaquri (AM) - Com expectativa de lucro mensal de R$ 750, aproximadamente40 famílias de produtores rurais de Manaquiri (AM), iniciaram nessasexta-feira (9) as atividades da Agroindústria de Óleos do município.Ausina foi inaugurada apenas dois dias depois que o Conselho deDesenvolvimento do Amazonas (Codam) aprovou o início dos trabalhosda primeira indústria de biocosméticos no Pólo Industrial de Manaus(PIM).Com a inauguração, os óleos de frutos e sementes de andiroba,castanha, tucumã, açaí, buriti e babaçu serão usados comomatéria-prima por outras indústrias que atuam no setor de cosméticos,sobretudo na Zona Franca de Manaus (ZFM).Em todoo Amazonas, existem mais de 120 espécies de plantas e frutas oleaginosascatalogadas. O valor do quilo dos produtos deve variar entre R$ 20 e R$ 25. Paraparticipar da divisão dos lucros, a família deve ser obrigatoriamenteintegrante da Cooperativa de Fitocosméticos de Manaquiri (Coopfitos) eatuar em uma das atividades previstas no processo de fabricação dosóleos, incluindo o trabalho de reflorestamento da área (atividadeinclusa no projeto e que prevê o plantio de novas mudas das plantasutilizadas na usina), até a colheita dos frutos e sementes. O início das atividades da agroindústria de Manaquiri ocorre nomomento em que a ZFM se prepara para uma expansão do setor de higienepessoal e perfumaria, já que, em dezembro passado, foi aprovado oProjeto Produtivo Básico (PPB) dos Cosméticos, que viabilizará aentrada de empresas do ramo no PIM, com os incentivos fiscaisexistentes na região.Além de servir como matéria-prima para fabricaçãode cosméticos, os óleos de Manaquiri que não estiverem dentro daclassificação "primeira qualidade" serão aproveitados pela Fundação deVigilância Sanitária (FVS) para a fabricação de repelentes a seremusados no Amazonas para o combate à malária. A usina deve produzir 50 litros por hora e a distribuição será feita por viarodoviária, com apoio dos governos municipal e federal. A novidade vinha sendo esperada há pelo menos três anos pelosmoradores do local, segundo Antônio Santa Rita, líder de uma dascomunidades integrantes da Coopfitos. Ele diz que é grande aexpectativa da comunidade sobre o andamento do novo negócio da cidade e também sobre a melhoria dos rendimentos dapopulação.Dados da Associação Brasileira da Indústria de HigienePessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abithec) mostram que, só em 2007, osetor de cosméticos movimentou mais de R$ 19 milhões no Brasil e hoje o país ocupa o terceiro lugar no ranking global de higiene pessoal ede beleza."Tudo começou em 2002 quando pesquisadores do Inpa [InstitutoNacional de Pesquisas da Amazônia] vieram para cá para fazer seustrabalhos e pesquisas sobre os frutos, sementes e potencialidades dosrecursos naturais na nossa área. Como nós já fazíamos a extração doóleo de forma artesanal, mas como fonte de renda e trabalho, surgiu aidéia de fazer a indústria. Agora estamos otimistas. Em média derendimento mensal das famílias deve saltar de R$100 para R$ 750",conta.De acordo com Santa Rita, a divulgação da pesquisa e do trabalhodos ribeirinhos culminou na chegada dos cursos técnicos preparatóriosdo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Amazonas (Sebrae)às duas comunidades inicialmente integrantes da cooperativa e por fimtoda preparação técnica até a inauguração da usina.O professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) eespecialista em Planejamento de Sistemas Energéticos, José de Castro,avalia que para que o projeto da usina ocorra de forma satisfatóriapara seus trabalhadores e para o meio ambiente, é necessário haver asustentabilidade sócio-ambiental de todo processo existente.Eleinforma que a Ufam é uma das apoiadoras da agroindústria e revela queapesar do inventário das áreas de floresta da região feito pelosmoradores de Manaquiri, a idéia é auxiliar os comunitários nodesenvolvimento da atividade."A universidade está ajudando oscomunitários com apoio técnico e também fazendo a ligação dessascomunidades com as possibilidades de investimentos que elas podem ter,como os editais de instituições diversas divulgados pela internet.Nosso papel é ajudá-los na sustentabilidade econômica esócio-florestal", afirma Castro.Segundo a gerente de Agronegócios do Sebrae Amazonas, VanderléiaOliveira, a partir do início das atividades, a agroindústria deManaquiri se prepara para um novo passo: a certificação de seusprodutos."A certificação dos produtos vai agregar valor ao que já éfeito e trazer mais segurança ao comprador que a matéria-prima tem aqualidade esperada", antecipa Vanderléia.Ela reforça que em meio aostreinamentos realizados com os ribeirinhos, também foi incluída acapacitação a respeito da qualificação da produção. "Eles já receberamtoda capacitação necessária para as boas práticas de fabricação e estãoprontos para receber a certificação".Durante a inauguração da Agroindústria de Óleos de Manaquiri, ogovernador do Amazonas, Eduardo Braga, disse que ainda este ano omunicípio irá receber mais R$ 2 milhões para a implantação de suasegunda indústria, dessa vez na área de Fecularia."A verba para aindústria de Fécula de Batata já está disponível para o município eserá repassada via Secretaria de Produção Rural e a expectativa é quemais cinco mil famílias sejam beneficiadas", anunciou Braga. Manaquirié atualmente o maior produtor de batata doce do estado.