Disputa presidencial traz à tona problemas de fundo da sociedade paraguaia

12/04/2008 - 18h04

Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A quebra do controle incondicional do Partido Colorado e a discussão de fato dos problemas de fundo da sociedade paraguaia são as principais novidades das eleições gerais do próximo dia 20 em relação às que foram realizadas desde a queda do regime ditatorial do general Alfredo Stroessner, em 1989, na opinião do professor de Ciências Políticas e Relações Internacionaisda Universidade Estadual Paulista (Unesp), Tullo Vigevani.“Hoje, esse monopólio do Partido Colorado [no poder desde 1947], qualquer que seja o resultado, ainda que ganhe a candidata do partido [Blanca Ovelar], não representará mais esse domínio incondicional que houve até dez anos atrás”, analisa.Os motivos, segundo o professor, são muitos, a começar por uma crise entre os dirigentes do partido, que resulta em rupturas internas. No entanto, ele aponta questões mais abrangentes, como o avanço da democracia no mundo todo, do qual o Paraguai não escapa. E que tem resultado em “uma diversidade e uma riqueza de vida social, de vida cultural muito intensa, que acabou diversificando a sociedade paraguaia” e também se mostra no surgimento de novas tendências e lideranças políticas.“Esse é um fato muito importante na candidatura do ex-bispo [Fernando] Lugo, é o crescimento de movimentos sociais que querem contestar fortemente a ordem existente, inclusive os acordos assinados anteriormente pelos governos paraguaios e, portanto, colocam em cheque o ordenamento do Estado paraguaio”, afirma.O crescimento dos movimentos sociais gerou a segunda grande novidade deste pleito, segundo Vigevani. “Nessas eleições, pela primeira vez os problemas de fundo da sociedade paraguaia estão sendo colocados e não apenas disputas de pessoas, como nas eleições passadas”.Entre esses problemas, o professor da Unesp aponta a necessidade de desenvolver a economia do país para conseguir também a modernização política do Estado. “Acredito que o Lugo, ou outras tendências modernizadoras no Paraguai, vão ter que ter em conta essa perspectiva, um projeto de desenvolvimento”.No entanto, ele acredita que modernizar a economia e a política não é um desafio somente dos dirigentes paraguaios, mas também dos vizinhos e sócios no Mercosul: Argentina, Brasil e Uruguai. Isso porque a informalidade na economia do Paraguai ainda traz problemas para o bloco sul-americano. “Acredito que o Brasil deveria investir, independentemente de quem ganhe as eleições, no sentido de fortalecer e modernizar esse país”.O professor defende que investimentos dos outros países do bloco no Paraguai trariam benefícios para o Mercosul como um todo, já que viabilizariam a modernização do sistema político, a consolidação da democracia e diminuiriam os bolsões de pobreza e atraso nos países.