Nobel de Medicina defende as pesquisas com células de embriões humanos

10/03/2008 - 23h15

Paulo Montoia (*)
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - As questões religiosas são pessoais e não deveriam ser misturadas às questões governamentais, opinou hoje (10) o geneticista  de origem britânica Oliver Smithies, um dos três agraciados com o Prêmio Nobel de Medicina 2007. Ele havia sido informado e indagado a respeito do julgamento, iniciado no Supremo Tribunal Federal, da constitucionalidade da liberação dessas pesquisas, em vigor com a Lei de Biossegurança.Smithies, como convidado de honra, abriu o 1o Simpósio Brasileiro de Tecnologia Transgênica, organizado pela Universidade Federal de São Paulo. Pesquisador formado em fisiologia humana e em bioquímica, ele pertence às primeiras gerações de pesquisadores de DNA do período pós-Segunda Guerra Mundial. Atualmente com 82 anos, iniciou seus trabalhos ainda pesquisando o material genético de moscas de frutas. Há décadas atuando nos Estados Unidos, ele recebeu o Nobel como reconhecimento por seu trabalho na criação de animais-nocaute a partir de camundongos e ratos. Trata-se da tecnologia em que um determinado gene do animal é identificado e, a seguir, bloqueado ou alterado para produzir um resultado específico nos descendentes desses animais. A tecnologia tem uso em pesquisas médicas para identificar e tentar anular genes causadores de doenças, mas está sendo usada também para desenvolver novos materiais para a indústria a partir da mutação de animais.Em entrevista à TV Brasil, antes da palestra, Smities avaliou a realização desse primeiro simpósio como “particularmente importante para o Brasil, porque se esperar muito tempo ficará distante demais do resto da comunidade [científica]”.Ao comentar o início do julgamento do uso de embriões humanos no Supremo Tribunal Federal, na semana passada, Smithies falou da questão nos Estados Unidos: “A maioria da população agora apóia o trabalho que estamos perseguindo, particularmente o uso de células-tronco embrionárias. Mas o presidente [George W. Bush] tem mantido uma posição diferente, particularmente nesse tipo de trabalho. Existem dois lados nessa questão e a minha posição pessoal é de que o presidente não deveria misturar governo e religião, porque os Estados Unidos são muito veementes quanto a questões de crenças pessoais. Nós devemos aprender a viver juntos”. E depois opinou: “Eu penso que é muito importante para os brasileiros, que a sua suprema corte considere este aspecto”. O simpósio iniciado hoje no campus central da universidade, na capital, tem duração de três dias e a participação de cientistas convidados de cinco países.