Israelenses e palestinos recebem com prudência anúncio de acordo de paz até final de 2008

28/11/2007 - 22h53

Agência Lusa

Jerusalém (Israel) - Israelenses e palestinos acolheram hoje (28) com prudência as boas intenções declaradas na véspera em Annapolis (EUA),  onde foi aberta a Conferência de Paz para o Oriente e Média. Israel e Palestina anunciaram que iniciarão no próximo dia 12 as negociações para concluir um acordo de paz até o final de 2008. Do lado israelense, a tônica nos meios de comunicação é o ceticismo sobre a possibilidade de se cumprir esse prazo. Foi lembrada, inclusive, uma frase de Yitzhak Rabin (primeiro-ministro de Israel assassinado por um fundamentalista judeu), que declarou que nenhuma data é sagrada no Oriente Médio. Hanan Cristal, comentarista da rádio pública de Israel, considerou o discurso do primeiro-ministro israelita Ehud Olmert, na conferência, suficientemente vago para que o Israel Beitenu, partido ultra-nacionalista (11 deputados em 120), e o Shass,  de formação ultra-ortodoxa (12 deputados), tenham decidido manter-se na coligação governamental. “Ehud Olmert ganhou um ano", disse Cristal, ao sublinhar que o estadista não cedeu em nada de concreto nas questões essenciais, como o futuro de Jerusalém oriental, os refugiados palestinos ou as fronteiras do futuro Estado palestino."O que se passou em Annapolis não tem qualquer importância", afirmou Avigdor Lieberman, ministro dos Assuntos Estratégicos e líder do Israel Beitenu. O ministro do Comércio e da Indústria Eli Yishai, dirigente do Shass, considerou a reunião como "uma ilusão" e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, um "parceiro virtual" que não controla a Faixa de Gaza, desde junho nas mãos dos islamitas do Hamas. O líder da oposição e do Likud, Benjamin Netanyahu, apelou para que os dois partidos abandonem a maioria, ao argumentar que "o primeiro-ministro fez perigosas concessões enquanto Mahmud Abbas não se mexeu um centímetro". À esquerda, Yossi Beilin, dirigente do Meretz, partidário de negociações com o Hamas, considerou que Olmert "falhou no momento da verdade em Annapolis, ao se recusar a romper com a direita da sua maioria, que descarta qualquer compromisso". O Conselho dos estabelecimentos da Judéia-Samaria (Cisjordânia), a mais importante organização dos colonos, não reagiu oficialmente – a manifestação e as orações coletivas organizadas na segunda-feira (26) em Jerusalém para o insucesso de Annapolis seriam a melhor resposta.Do lado palestino, o diário Al Quds (independente próximo da Fatah de Abbas) considerou que Annapolis "marca um início encorajante ainda que simbólico". E afirmou: "Esta reunião colocou a bola no campo dos israelenses e deu uma oportunidade aos Estados Unidos de fazerem pressão sobre os dirigentes israelenses, para que participem de forma real no processo de paz." Já o diário da Autoridade Palestina, Al Hayat al-Jadida, destaca que "a maioria do povo palestiniano apoiou o processo lançado em Annapolis, apesar do que deixam entender as televisões do Golfo".Abdullah Abdullah, deputado da Fatah, declarou que "o elemento mais importante é Mahmud Abbas não ter cedido sobre os direitos dos palestinos contrariamente às acusações que lhe foram feitas". Segundo um porta-voz do Hamas, Taher al-Nunu, "os discursos confirmam o que tínhamos afirmado antes: que essa conferência não produzirá nenhum resultado no interesse da causa palestina".Hoje, cerca de 30 pessoas ficaram feridas em Hebron, em confrontos entre a polícia palestina e manifestantes durante o funeral de um palestino morto na véspera, em manifestação contra a conferência de Annapolis, segundo testemunhas.A Autoridade Palestinna tinha proibido a realização na Cisjordânia de manifestações hostis à conferência de paz. "Não havia intenções de violar os direitos democráticos dos manifestantes, mas optamos pela ordem pública", comentou uma fonte da Autoridade Palestina citada pela edição eletrônica do jornal Yediot Aharonot.Nos protestos de ontem em diferentes cidades, além do palestino morto, 50 pessoas ficaram feridas e 300 foram detidas pela polícia palestina. Na Faixa de Gaza, o Hamas, que controla o território desde junho, reuniu dezenas de milhares de seguidores para protestar contra a conferência de Annapolis. Horas antes, o primeiro-ministro deposto do Hamas, Ismail Haniye, tinha assegurado que o povo palestino continuaria resistindo, qualquer que fosse o resultado da conferência.