Omissão da Agência leva leitor a evocar princípio da pluralidade

23/11/2007 - 0h50

Paulo Machado
Ouvidor da Radiobrás
Brasília - A recente saídade quatro pesquisadores do Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada (Ipea) e os motivos que levaram a isso não serianotícia para a Radiobrás? Para o leitor DanielMarchi, sim, pois ele procurou por ela nas páginas da AgênciaBrasil e não a encontrou. Invocando o princípioda pluralidade, pelo qual se pauta a Radiobrás, eleperguntou à Ouvidoria por que não existe nenhumamatéria sobre esse assunto. Enviei a pergunta do leitor à Central dePauta, responsável pela pauta da empresa e, portanto, de todosos veículos, inclusive da Agência Brasil.Aqui vai a íntegra da resposta:“A saída de quatro pesquisadores doInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) veio a públicocom reportagem do jornal Folha de S.Paulo na quinta-feira(15), feriado de Proclamação da República. Anotícia foi depois reproduzida por outros veículosdurante os três dias seguintes. Como a Radiobrássegue o princípio de não reproduzir notícias deoutros veículos, mas apenas as apuradas pela própriaempresa, tentou entrar em contato com o Ipea, o que não foipossível por ser ponto facultativo na sexta-feira (16). Asaída dos quatro pesquisadores entrou novamente na PautaRadiobrás da última segunda-feira (19). Na reuniãode Coordenação de Pauta, com todos os chefes deveículos da empresa e a Diretoria de Jornalismo, foi avaliadoque a notícia havia perdido novidade após cinco dias.No entanto, para não deixar de registrar o fato, foidefinido que a empresa esperaria um fato novo no desenrolar do caso.Continuamos acompanhando os desdobramentos do episódio e, apósa publicação da última pesquisa coordenada porum dos pesquisadores que foram desligados, Fábio Giambiagi,marcamos para segunda-feira (26) entrevista com ele e com opresidente do Ipea, Márcio Pochmann. Como forma deesclarecimento ao leitor, informamos que não há nenhumaposição editorial da empresa em não cobrir ademissão de servidores do governo federal. A falha nacobertura da saída dos quatro pesquisadores do Ipea ocorreusomente pela impossibilidade de, nas condições dadas,seguir um dos parâmetros básicos da cobertura daRadiobrás, que é o de checar a informaçãodireto na fonte. Em outras saídas de servidores dogoverno federal, que também geraram polêmica na imprensaem geral, a Radiobrás nunca se esquivou de cobrir o fato. Paraficar apenas em alguns exemplos, e no veículo citado peloleitor, é possível buscar “Ildo Sauer” e “LuizPinguelli Rosa” na Agência Brasil. Nãosó foi noticiada a saída do diretor de Gás daPetrobras, Ildo Sauer, quanto a polêmica que se seguiu. No casode Pinguelli, que deixou a presidência da Eletrobrás,também foi noticiada sua saída e as manifestaçõesformais de apoio que recebeu. E, mesmo após sua saídada Eletrobrás, não deixou de ser fonte para a empresa,sendo citado em 48 reportagens somente na AgênciaBrasil.”Foi assim que o assunto não apareceu naspáginas da Agência. Consultada, a Diretoria deJornalismo informou que “fatos são fatos e, portanto, temosa obrigação de noticiar, no entanto jamais faremosconjecturas e interpretações por respeitarmos a opiniãodos leitores – eles é que devem julgar a partir deinformações objetivas”.Foram justamente essas informaçõesobjetivas sobre o episódio que faltaram ao leitor: O que éo Ipea? Qual a função dele como órgão depesquisa governamental? Quais os assuntos pesquisados e o que essapesquisa tem a ver com a formulação das políticasde Estado? Qual a diferença entre pesquisa acadêmica epesquisa aplicada? Sobre o que pesquisavam os técnicosafastados? O que representavam as pesquisas deles para o governo epara a sociedade? Por que foram afastados? Como é tratada aquestão da liberdade de pesquisa, de pensamento e de opiniãopela instituição?Sem essas informações, de umaagência pública de notícias que respeita osprincípios da isenção, da objetividade, daimpessoalidade, do apartidarismo e também da pluralidade,reivindicada pelo leitor, o público talvez tenha de seabastecer de notícias que muitas vezes interpretam os fatos àluz de interesses diversos aos de informar.A Ouvidoria entende que o leitor tem direito deconhecer a pluralidade de questões e de pensamentos que semanifestam no espaço público político queenvolve o governo, o Estado e a cidadania. Segundo o Manual deJornalismo da Radiobrás isso faz parte da nossa pauta.Portanto, a omissão do assunto nas matérias da AgênciaBrasil, apesar de justificada, deixa uma lacuna na suacobertura. O princípio da pluralidade, evocado peloleitor, se aplica totalmente ao caso, pois reportar os diferentesinteresses e valores que envolvem uma questão faz parte dorespeito ao direito à informação. Ao omitir acobertura de um determinado assunto pode-se, com razão,levantar a suspeita de que se evita tratar de algo que nãointeressa a alguém ou a alguma instituição.Deixar de falar sobre um tema pode ser interpretado como uma atitudetão tendenciosa quanto à de abordar um assunto apenasde um ponto de vista, ouvindo-se apenas fontes alinhadas comdeterminado pensamento ou interesse. A Ouvidoria apurou que não foi esse o caso,mas o leitor tem o direito de saber exatamente o que aconteceu, quaisas responsabilidades no episódio e o que isso representa parauma empresa pública de comunicação.Até a próxima semana.