Exploração de aqüíferos pode tornar inúteis obras de transposição do Rio São Francisco, alerta professor

04/08/2007 - 18h09

Marcos Agostinho
Da Agência Brasil
Brasília - A exploração indiscriminada dos aqüíferos subterrâneos responsáveis pela manutenção da perenidade do Rio São Francisco pode resultar em uma perda total das obras de transposição que o governo deseja implementar. A informação é do professor de Geociências José Elói Campos, da Universidade de Brasília, a partir de pesquisa sobre esses aqüíferos feita pela universidade. O período de seca na região Nordeste, explicou, atinge todos os estados e a construção de poços para irrigar a plantação afeta o equilíbrio ambiental, pois a água não retorna ao aqüífero e nem vai para o rio. A perenidade do Rio São Francisco, segundo ele, é fruto do abastecimento desses aqüíferos.“Está ocorrendo uma intensificação no processo de utilização desses reservatórios naturais, e se esses recursos não forem bem geridos, poderemos assistir daqui a 20 anos a uma diminuição na vazão do rio, resultando na perda de todas as obras de transposição”, disse Campos em entrevista ao programa Revista Brasil da Rádio Nacional AM. O professor disse que essa exploração intensificou-se devido à vocação da região para a agricultura irrigada e à proibição de retirada de água de rios que são afluentes do São Francisco. Para o impasse entre o desenvolvimento da agricultura e a proteção dos aqüíferos, ele sugeriu a busca pela sustentabilidade do sistema, pois apesar de os reservatórios serem interessantes do ponto de vista da quantidade de água, eles são limitados.O estudo foi realizado durante quatro anos no oeste da Bahia, divisa do estado com Goiás e Tocantins, que mostrou também que os reservatórios naturais são responsáveis por cerca de 40% do abastecimento do rio São Francisco no período da seca. “O que aumenta a preocupação é que não vemos, em nenhum momento no projeto de transposição, menção ao aqüifero que é o grande abastecedor do São Francisco”, disse o professor.