Pesquisador questiona apoio do BNDES a grandes empresas exportadoras

30/06/2007 - 16h52

Priscilla Mazenotti
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a grandes empresas brasileiras com o objetivo de auxiliá-las no processo de internacionalização  geram um ”falso círculo virtuoso”, na avaliação do historiador e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Mathias Luce.Esta semana, o BNDES confirmou que dará apoio ao grupo JBS, controlador do frigorífico Friboi, na operação de compra da empresa norte-americana Swift. Com essa operação, o grupo formará a maior empresa do setor de carnes do mundo. Segundo o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, outras operações semelhantes deverão ser apoiadas. Mathias Lace diz que é preciso ter em mente que o fato de empresas de capital brasileiro terem liderança em um setor econômico não significa necessariamente vá haver benefícios à população brasileira. “O problema não é o fato de o BNDES se envolver no financiamento de uma operação volumosa ou financiar investimentos em outros países, contanto que esses investimentos beneficiassem o conjunto das populações envolvidas, a população brasileira. O que está em curso aí é um processo que deve ser questionado: será que essa operação está beneficiando a população brasileira?”, pergunta ele.Segundo Lace, é preciso pensar um modelo alternativo para as operações de financiamento do BNDES desse porte. “O BNDES, como uma das maiores instituições públicas de fomento do país, deve cumprir uma função de ajudar a reduzir a dependência tecnológica do país”, diz. “Percebemos que há um desvio nítido nesse tipo de investimento, eles são destinados às exportações. De fato, estamos diante de um modelo exportador que não vem gerando benefício para a maioria da população brasileira e que vem aumentando a dependência da economia brasileira frente ao mercado internacional.”O apoio do BNDES ao Friboi para a compra da Swift foi confirmado esta semana. A operação de compra da empresa norte-americana pelo frigorífico foi anunciada no fim do mês de maio, no valor de US$ 1,4 bilhão.A Friboi já recebeu no passado financiamento do BNDES para aquisição da Swift argentina. A compra da empresa norte-americana permitirá à Friboi atuar nos Estados Unidos, na América do Sul e na Austrália. Com isso, a companhia amplia sua linha de carne bovina para suína e se torna a maior abatedora mundial de bovinos e a segunda de suínos.