Familiares de mortos em fábrica de fogos dizem que irregularidades continuam

24/06/2007 - 19h39

Erich Decat
Da Agência Brasil
Brasília - Um júri popular analisa esta semana as causas e os responsáveis por umdos piores acidentes com fogos de artifício da históriado Brasil. Na quarta-feira (27), em Santo Antônio de Jesus (BA)vão a julgamento oito acusados pela explosão que matou64 pessoas há quase nove anos. A maior parte dos mortos trabalhavana fábrica onde ocorreu o acidente.Os familiares dasvítimas organizaram o Movimento 11 de dezembro que, emparceria com a organização não-governamentalJustiça Global, também entrou com ação naComissão Interamericana de Direitos Humanos (CDIH) daOrganização dos Estados Americanos (OEA).Eles acusaram o Estadobrasileiro de demorar no julgamento dos responsáveis pelaexplosão e não prestar assistência àsfamílias das vítimas. Apesar de um acordo firmado pelogoverno federal, a advogada da Justiça Global Luciana Garciadiz que mesmo após a tragédia a situaçãono município baiano não mudou.“Desde a explosão,até hoje, continua a situação de produçãoilegal e clandestina de fogos de artifício, na regiãode Santo Antônio de Jesus. Inclusive essa atividade érealizada por crianças eadolescentes que produzem os fogos nas portas de suas casas”,relata Luciana.Diante da possibilidade da apresentaçãode recurso por parte da defesa após o julgamento, o que poderálevar a um prolongamento do caso, Maria Madalena Silva, presidente doMovimento 11 de dezembro, afirma que continuará vigíliaem busca de Justiça.“Eu nunca perdi aesperança e se esse júri não der em nada, nósvamos continuar a lutar, porque como diz o pessoal a esperançaé a última que morre”, diz Maria Madalena. Ela perdeutrês filhas na explosão, duas delas menores de idade –15 e 14 anos. As meninas trabalhavam na fabricação detraque, que continua ocorrendo de maneira insegura na cidade, comorevela um documentário feito com apoio das famílias e divulgado pelo You Tube.“Muita gente saiu domovimento porque receberam pressão de pessoas do bairro queainda sobrevivem da fabricação de fogos de artifícioem condições precárias”, lamenta a presidentedo Movimento 11 de dezembro. “Até hoje tem gente trabalhandono local do acidente. As pessoas falam que não tem como ganhara vida de outro jeito.”