Ministro das Cidades diz que notícias sobre envolvimento com lobistas foram divulgadas para prejudicá-lo

14/06/2007 - 0h31

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O ministro das Cidades, Márcio Fortes, disse que a divulgação de notícias levantando suspeitas sobre a existência de conversas telefônicas gravadas pela Polícia Federal (PF), com autorização judicial, em que ele teria conversado com lobistas investigados pela Operação Navalha, foi um “esquema muito bem montado para me acertar”. Em entrevista à Agência Brasil, Fortes acrescentou não saber ainda com que intenção isso teria sido arquitetado: "Foi uma coisa muito estranha. Alguém vaza uma nota para um jornal, que destaca que o assunto é sigiloso, mas o divulga”. Fortes se referia a notícias publicadas e sugerindo que ele estaria sendo preservado, ao passo que os nomes e as acusações sobre outros investigados teriam vindo à tona, apesar do segredo de Justiça em que o inquérito corria. “Eu levei um dia inteiro para levantar todas as agendas, todas as chamadas telefônicas, todas as pessoas com quem falei para me certificar de que ninguém tinha participado de uma audiência ou mesmo telefonado daqui [do ministério]”. Citando o livro Crime e Castigo, do russo Dostoievski, Fortes sugeriu que alguém teria tentado inventar o “castigo sem crime” para prejudicá-lo: “Ninguém dizia qual era o meu crime, ninguém sabia, simplesmente porque não existia. Agora, para reparar isso [as suspeitas sobre sua participação] é preciso reconstruir todas essas informações”.

Ele disse ter sido autorizado pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, a informar que não está sendo investigado e que não há qualquer pedido de investigação contra ele. Tarso também teria confirmado que não há, no inquérito policial, qualquer registro de conversas telefônicas entre o ministro das Cidades e supostos lobistas de empresas envolvidas no esquema investigado pela Operação Navalha. “Não há nenhuma ligação minha, além da feita para o superintendente de Repasses da Caixa Econômica Federal, Flávio José Pin, que foi considerada institucional e normal”, argumentou.

José Pin foi detido no dia 17 de maio, quando a PF deflagrou a Operação Navalha, e permaneceu preso por quatro dias, acusado de ter orientado o grupo liderado por Zuleido Veras, dono da Construtora Gautama, na solução de pendências que poderiam prejudicar a formalização dos contratos com órgãos públicos. Segundo a PF, Pin facilitava a utilização de recursos nas obras irregulares da empresa.Fortes confirmou ter solicitado ao Ministério da Justiça que sejam disponibilizadas as transcrições dos diálogos envolvendo qualquer funcionário do Ministério das Cidades, a fim de verificar as providências a serem tomadas. Ele disse desconhecer que um servidor de seu ministério, também chamado Márcio, estaria sendo investigado, suspeito de fazer as ligações que foram atribuídas ao ministro. “Eu não sei se existe investigação. Para saber se há ou não o envolvimento de algum funcionário, só tendo acesso às transcrições. Por isso eu estou pedindo isso, para saber quais funcionários têm alguma participação que possa ser considerada irregular ou criminosa”, disse o ministro..