Indústrias e sindicatos consideram insuficientes medidas para compensar queda do dólar

12/06/2007 - 22h19

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os cortes de impostos e a abertura de linhas de financiamento anunciados hoje (12) pelo governo para determinados setores da indústria terão efeitos positivos na garantia da competitividade das fábricas nacionais em meio à valorização do real perante o dólar. As medidas para compensar o câmbio desfavorável, no entanto, são insuficientes para resolver os problemas provocados pela concorrência com os produtos importados cada vez mais baratos.Essa é a avaliação de representantes dos trabalhadores e dos setores contemplados pelas medidas que os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, anunciaram. Para as centrais sindicais e as associações de fabricantes, apesar de a indústria nacional precisar de soluções urgentes para sobreviver ao dólar abaixo dos R$ 2, as iniciativas do governo só terão efeito a médio e a longo prazo.Diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel afirmou que a desoneração do PIS-Cofins para os investimentos e para a compra de máquinas e equipamentos será benéfica, sob o argumento de que o setor é um dos mais prejudicados pela concorrência com os tecidos importados da China. No entanto, ressalvou, a medida deveria ser estendida à produção.A desoneração, acrescentou, não contemplou o estoque de investimentos realizados pelo setor têxtil: “A gente vinha discutindo com o governo a desoneração da produção, o que permitiria viabilizar os investimentos a curto prazo e impulsionar o setor, mas ainda não fomos atendidos. As medidas anunciadas pelo governo fariam mais sentido se os empresários tivessem mais recursos para investir.”Em relação à linha de crédito de R$ 3 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o diretor da Abit disse que ainda é necessário ver de que forma as indústrias têxteis serão contempladas, porque “esse valor vai estar disponível para vários setores". Ele elogiou as mudanças nos impostos para importação de vestuário – a tributação será por item que entra no país, e não pelo valor da mercadoria –, porque "representará mais controle".Defendeu, porém, a intensificação das negociações comerciais para melhorar a competitividade das roupas e dos tecidos nacionais no mercado internacional: “Até hoje não temos acordo de acesso preferencial aos principais mercados mundiais, que são os Estados Unidos e a União Européia. Enquanto uma calça jeans brasileira é taxada em 17% nos Estados Unidos, a fabricada na América Central não paga nada para entrar lá.”Em outros setores da indústria beneficiados pelo governo, a reação foi parecida. Por meio de nota oficial, a Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (Abimóvel) informou que a indústria nacional precisa de “medidas mais eficazes para reconduzir o real a um patamar mais adequado” e defendeu a cotação do dólar em R$ 2,30, para intensificar as exportações.Para as centrais sindicais, a iniciativa do governo é importante, mas demorou a ser tomada. “Com a morosidade, esses segmentos perderam competitividade, muitas empresas fecharam as portas, ocasionando desemprego e perda de receita para os municípios e estados”, afirmou em comunicado a Força Sindical, que defendeu medidas concretas para conter a queda do dólar e estimular o desenvolvimento, como a queda dos juros, a reforma tributária e o fomento da produção.A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também ressaltou a necessidade de mudanças na política econômica para impulsionar o crescimento do país. Em nota, destacou que as medidas do governo devem incluir cláusulas sociais, que incentivem as empresas a criar empregos e a investir na qualificação dos trabalhadores. “A defesa da produção nacional é extremamente importante para o desenvolvimento do país e deve estar sempre atrelada à valorização dos trabalhadores”, destacou a entidade.