Delegado preso na Operação Furacão faz acusações, contestadas por PF

20/04/2007 - 21h52

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Suspeito de ter participado do esquema investigado pela Operação Furacão, o delegado aposentado da Polícia Federal (PF) Luiz Paulo Dias de Mattos acusa policiais federais de agirem irregularmente durante antigas ações contra jogos ilícitos. Durante as operações de apreensão de máquinas de jogo anteriores à Operação Furacão, a PF teria levado "também o dinheiro do caixa", segundo o advogado de Mattos, Paulo Henrique Oliveira Lins. A PF afirmou que, como o processo corre sob segredo de Justiça, não responderá à acusação.Mattos é acusado de ter alertado os suspeitos da realização da operação. Sua esposa, a delegada federal licenciada Susie Pinheiro Dias Mattos, foi presa sob a mesma acusação.O advogado critica a acusação de que seu cliente era um elo para avisar bicheiros sobre operações policiais. Mattos admite que é amigo do policial civil Marcos dos Santos Bretas, preso durante a operação. Mas nega ter lhe passado informações. Segundo ele, a relação deve-se "à profissão de ambos". Ainda segundo o advogado, Mattos também sabia da amizade entre o policial civil e José Renato Granado Ferreira, bicheiro e ex-presidente da Associação dos Administradores de Bingos do Rio de Janeiro (Aberj).Bretas e Ferreira estão entre os 25 presos pela Polícia Federal (PF) há uma semana. Também foram detidos advogados, juízes, desembargadores e o procurador regional da República no Rio de Janeiro, João Sérgio Leal Pereira. Eles são acusados de envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro e por tráfico de influência, já que, segundo a PF, sentenças judiciais que beneficiavam bicheiros e donos de bingos eram negociadas pela organização criminosa.De acordo com Lins, a versão de Paulo Mattos é de que suas conversas telefônicas com a esposa, gravadas com autorização da Justiça e reproduzidas sem fonte declarada pela imprensa, eram sobre a ação de agentes federais durante operações de apreensão de máquinas caça-niqueis, nas quais eles estariam também apreendendo todo o dinheiro encontrado.“A Polícia Federal tinha dado início à operações nas casas de bingo do Rio de Janeiro. Mas o pedido de busca e apreensão era apenas para os chips das máquinas caça-niqueis", explica Lins. "O Bretas, sabendo que o Paulo Mattos é delegado federal aposentado começou a brincar e tirar um sarro de que a PF, ao fazer a operação, estaria levando também o dinheiro do caixa, e não apenas se restringindo a apreender as máquinas".Segundo o advogado, Paulo Mattos teria intervido "uma ou duas vezes, a fim de evitar esse tipo de prática, que ele considerava ilegal e abusiva". Embora defenda que Paulo Mattos afirma não ter nenhuma relação com os fatos investigados pela PF, Lins faz questão de destacar que esta é a versão de seu cliente. "Ele não tem nada a ver com liminares, com juiz, com jogo do bicho e com essas atividades. Ele não tem mais vínculo nem mesmo com a PF, já que é delegado aposentado e, portanto, não tem poder de influência ou interferência".De acordo com Lins, Susie Mattos, delegada licenciada e atual corregedora da Agência Nacional de Petróleo (ANP), também confirma ter conversado com o marido, por telefone, sobre operações da PF, mas diz que não sabia de que operação se tratava, uma vez que está afastada do trabalho policial. "A Susie atualmente exerce uma função que não tem nenhum vínculo com jogo e eventual corrupção no Poder Judiciário".A Polícia Federal diz estar tranqüila em relação ao conjunto de provas apresentadas contra Paulo Mattos. Segundo o órgão, se as evidências fosse frágeis, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso, não teria decretado as prisões, uma vez que a autorização foi possível mediante um conjunto de provas. Além disso, a PF diz que responsabilidade é compartilhada entre PF, Procuradoria Geral da República e Supremo Tribunal Federal (STF) e que não teria sido possível à PF induzir os demais ao erro.