Crises externas estimularam desenvolvimento da indústria do petróleo no país

21/04/2006 - 10h12

Rio, 21/4/2006 (Agência Brasil - ABr) - Em 6 de outubro de 1973, Egito e Síria decidiram, juntos, invadir a república vizinha de Israel. Era o início da Guerra do Yom Kippur. Após cerca de três semanas de conflitos, as duas nações árabes tiveram que retroceder. Mas, apesar de a batalha ter acontecido a milhares de quilômetros de distância do Brasil, ela afetaria diretamente a economia brasileira.

Isso porque, com a derrota de Egito e Síria, as outras nações árabes que detinham grande parte da produção petrolífera, resolveram suspender a exportação de petróleo para os Estados Unidos e para os países europeus que apoiavam Israel. Ao mesmo tempo, decidiram reduzir a produção, para não esgotar suas reservas. A medida resultaria em um grande aumento do preço do petróleo no mercado internacional – a demanda era muito maior que a oferta.

Em 1979, uma segunda crise surgiria, desta vez motivada pela paralisação da produção iraniana, em conseqüência da Revolução Islâmica promovida pelo aiatolá Ruhollah Khomeini.

Para os especialistas, as crises tiveram um efeito negativo na economia brasileira, ao provocar um grande déficit na balança comercial do país: com o alto preço do petróleo, aumentou o peso das importações de petróleo.

Mas, ao mesmo tempo, tiveram um efeito positivo ao estimular o desenvolvimento da indústria petrolífera no Brasil. Segundo o geólogo Giuseppe Bacoccoli, da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), na década de 1960, com o preço do petróleo em baixa no mercado internacional, a Petrobras optou pela estratégia de investir no downstream (refino e transporte), em vez do upstream (exploração e produção).

"A Petrobras passou a investir no transporte e no refino, porque o petróleo importado, do exterior, era muito barato. Nos anos 60, comprava-se um barril de petróleo por US$ 2. O negócio era comprar óleo e refinar no Brasil. Não valia a pena explorar", conta o geólogo, que na época era funcionário da Petrobras.

Segundo o economista André Furtado, do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os anos de 1960 e 1970 são os anos do milagre econômico do Brasil, o que faz com que o consumo de petróleo no país cresça muito. "No período, a produção automobilística quadruplicou. Cresceu o consumo de gasolina e a Petrobras fez uma opção estratégica, ao perceber que o petróleo estava barato no mundo interiro. Era o tempo da chamada 'petroprosperidade'", afirma.

O economista conta que, mesmo com o choque do petróleo de 1973, a Petrobras demoraria a tomar uma iniciativa: "A Petrobras não acordou assim, tão rapidamente e não era um esforço tão fácil, já que a empresa ainda estava envolvida em grandes investimentos na área de refino, com a construção da Replan, e estava investindo muito na petroquímica. Ela começa uma reconversão, mas é ainda num processo gradual, que não vai dar resultados a curto prazo. E havia, na empresa, gente que acreditava que o primeiro choque do petróleo seria um fenômeno transitório e que o preço iria voltar a cair."

Furtado conta que foi preciso o segundo grande choque, em 1979, para despertar a direção da Petrobras de que investimentos em exploração e produção de óleo eram necessários: "Eles não colocavam fé de que aquilo seria um fenômeno permanente. Com o segundo choque do petróleo, convenceram-se de que substituir petróleo era realmente uma prioridade absoluta para o país".