Reservas petrolíferas brasileiras foram subestimadas por décadas, afirmam especialistas

20/04/2006 - 11h31

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil

Rio – Oitenta anos dividiram a descoberta do primeiro poço do mundo, nos Estados Unidos, em 1859, da exploração dos primeiros campos brasileiros, em Lobato e em Candeias, na Bahia, nos anos de 1939 e 1941.

De acordo com o geólogo Giuseppe Bacoccoli, pesquisador da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), as disputas ideológicas foram os principais motivos do atraso. "É um atraso fantástico. E muita gente dizendo que não adiantava, que a geologia do Brasil não era favorável ao petróleo", conta o pesquisador.

Bacoccoli conta que partidários de esquerda e militares nacionalistas defendiam a exploração de petróleo no Brasil, como já acontecia na América do Norte, no Oriente Médio e na África, nas primeiras décadas do século 20.

Mas um grupo de pessoas, supostamente envolvidas com as multinacionais petrolíferas, como a Exxon, afirmava que o solo brasileiro não tinha potencial petrolífero e que, por isso, o país deveria continuar importando óleo.

"Havia essa discussão entre o pessoal que era mais nacionalista, insistindo que o Brasil estava cheio de petróleo, mas não queria explorar porque as multinacionais não deixavam, e o grupo que dizia que as multinacionais não vinham para cá, porque no Brasil não tinha petróleo e não havia, portanto, ‘o interesse’", conta Bacoccoli.

Outro fator que dificultou a exploração de petróleo em território nacional – em meio a essa disputa ideológica – foi a falta de condições técnicas e materiais do governo brasileiro.

"O petróleo demandava muita tecnologia e muito dinheiro. E o governo brasileiro não tinha nem uma coisa nem outra. Só com a Petrobras foi possível juntar as duas coisas, através de impostos especiais e de contratação de técnicos estrangeiros", afirma.

De acordo com o geólogo, órgãos governamentais anteriores à Petrobras, como o Conselho Nacional do Petróleo, em 1939, trabalhavam com competência, mas tinham falta de recursos e a burocracia que emperrava suas ações.

O economista André Furtado, do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), não acredita que o atraso tenha sido provocado por um embate ideológico, mas pelas conjunturas econômica e política da primeira metade do século 20 no Brasil.

"As multinacionais sentiam que o Brasil não era um país propenso a ter petróleo. E alguns dos capitalistas nacionais já tinham tentado explorar petróleo sem muito sucesso. Aqui não havia tecnologia para encontrar petróleo", afirma Furtado. "O desenvolvimento do petróleo dependeria, por isso, do Estado brasileiro. E não havia, na época da Velha República, uma política que desse importância para o petróleo."

Segundo o economista, a partir da década de 30, o país começa a ter consciência do petróleo como produto do desenvolvimento. "A preocupação com o petróleo surge com a preocupação com o desenvolvimento do país", reitera.