Na Câmara, MST reclama de impunidade e falta de assistência a sobreviventes de Carajás

17/04/2006 - 14h11

Luciana Vasconcelos
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Os dez anos do massacre em Eldorado dos Carajás (PA) foram lembrados hoje (17) durante sessão solene realizada pela manhã na Câmara dos Deputados. Em 1996, 19 trabalhadores foram mortos e 69 ficaram feridos em um confronto com a Polícia Militar.

Marina dos Santos, uma das coordenadoras do MST, participou de sessão solene na Câmara e disse que há um sentimento de indignação pelo "clima de impunidade". Ninguém está preso pelos assassinatos.

Em setembro passado, o ex-comandante da Polícia Militar do Pará Mário Colares Pantoja obteve no Supremo Tribunal Federal relaxamento de sua prisão. Condenado a 228 anos de prisão pelo massacre, Pantoja aguarda em liberdade o julgamento de seus recursos. "Clamamos por justiça e todos sejam punidos. Não só o comandante da operação", disse Marina.

A coordenadora também reclamou da falta de assistência oferecida aos sobreviventes do massacre. Segundo ela, não há nenhum tipo de política pública no estado do Pará para atendimento a essas pessoas.

"Ainda há pessoas com projéteis, com balas no corpo e sofrendo todo tipo de abandono, sem condições de trabalho produtivo e não há nenhuma política pública por parte do estado atual do Pará de atendimento a essas famílias. Nenhuma família foi indenizada até hoje", afirmou Marina.

A coordenadora do movimento também disse que os trabalhadores vão continuar pedindo ao governo o assentamento de 170 mil famílias e que seja regulamentada portaria sobre índices de produtividade.

Os atuais índices de produtividade – utilizados para determinar se uma área está ou não apta a ser desapropriada – foram estabelecidos em 1980, a partir de dados estatísticos de 1975. "Continuaremos ocupando os latifúndios que estão improdutivos e continuaremos até o fim do governo Lula, independente da reeleição, cobrando para que faça assentamentos das famílias acampadas e atualize os índices de produtividade", destacou.

Além da sessão solene realizada, o MST fará uma série de atividades em Brasília para lembrar o massacre de Carajás. Deve ser realizado um debate na Câmara Federal sobre a questão agrária e a violência no campo, com exibição do documentário Eldorado dos Carajás – 10 anos depois.

Após a discussão, os trabalhadores seguirão para a Câmara Legislativa do Distrito Federal, onde será realizada outra sessão solene, às 16 horas. Integrantes do MST do DF devem encenar uma peça sobre o tema depois das homenagens.

Além disso, está previsto lançamento do livro "Marcha Interrompida", de Pedro César Batista, que narra a saga dos trabalhadores rurais envolvidos no episódio. Ao final das atividades, os integrantes do MST vão plantar 19 árvores na área externa da Câmara Legislativa do DF, em memória dos trabalhadores mortos.