Agricultores consideram inadequada assessoria técnica no acampamento 17 de Abril

17/04/2006 - 9h40

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Eldorado dos Carajás (PA) - Os agricultores do assentamento 17 de Abril consideram inadequada a assessoria técnica prestada na área. Segundo eles, as lições ensinadas foram esquecidas, por não terem a ver com a realidade cultural dos ex-sem-terra.

Nos últimos dois anos, o assentamento passou a receber assistência técnica de empresa terceirizada pelo Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) para aprender a plantar coco, cupuaçu e cacau. A maioria das plantações não existe mais.

"Nossa cultura é arroz e milho, somos acostumados com outro plantio", diz o presidente da Associação de Produção e Comercialização dos Trabalhadores Rurais do Assentamento 17 de Abril, Antonio Pereira dos Santos.

O assentamento foi criado após o Massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996. Os moradores "receberam dinheiro, mas o que faltou foi a assistência vocacional, alguém que pudesse orientar a produção", explica o superintendente do Incra do Sul e Sudeste do Pará, Raimundo de Oliveira Filho.

O Incra mantém na região 320 técnicos terceirizados, com a orientação básica de respeitar a aptidão vocacional do assentado e a comercialização, mas também a aptidão do próprio solo. "A questão cultural é forte. É preciso um meio termo", diz Oliveira Filho. "O que vai ser produzido é discutido com a sociedade", ressalta o chefe de gabinete, Celso Aparecido Florêncio

Condições logísticas, comercialização e adequação da terra são levantamentos que devem ser feitos pelos técnicos terceirizados. No assentamento foram implantados laticínio, usina de arroz, aviários e fábrica de farinha. As obras foram feitas em 1998, "mas por falta principalmente de matéria prima e equipamento isso nunca foi concluído", reconhece o superintendente.

Para o superintendente do Incra em Belém, José Cristiano Martins, a assessoria técnica é fundamental para a qualidade da reforma agrária porque traz efetivamente condições que não são trazidas apenas com o acesso à terra que são: qualidade na produção, desenvolvimento do processo de comercialização, fortalecimento da organização das famílias para enfrentar o mercado e a dimensão ambiental que precisa crescer na Amazônia.

Martins considera a educação ambiental o maior desafio. "Quando conseguirmos usar os recursos naturais mantendo a floresta e como principal meio de sobrevivência das famílias teremos educação ambiental, qualidade de vida e desenvolvimento sócio-econômico, conservando a riqueza natural".