Severidade e agressões foram causas alegadas pelos internos para rebelião no Tatuapé

16/04/2006 - 10h09

Paulo Montoia
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – A rebelião no Complexo da Febem do Tatuapé na noite de 4 de abril foi uma das mais longas e violentas dos últimos meses e abrangeu sete unidades que abrigam internos reincidentes de crimes considerados graves. Segundo comunicado da Febem, a revolta durou dez horas e meia e deixou 62 feridos, dos quais 44 funcionários e 18 adolescentes.

De acordo com o relatório divulgado pela comissão de direitos humanos que visitou as instalações na última segunda-feira (10), os jovens internos informaram que se rebelaram em razão da disciplina severa e das agressões físicas de que seriam vítimas.

O complexo registrou mais de 20 rebeliões no ano passado. De acordo com comunicado da Febem, a rebelião do dia 4 começou às 22h30, quando "iniciou-se uma briga entre grupos de adolescentes, gerando um início de tumulto". O documento revela que "a confusão se generalizou entre as unidades 1, 2, 12, 13, 14, 15 e 23, com adolescentes no telhado e funcionários como reféns".

De acordo com o comunicado, o "circuito grave" [classificação interna da Febem] tem 464 adolescentes nas sete unidades e todos se envolveram na rebelião. A tropa de choque da Polícia Militar foi solicitada pela presidente da Febem, Berenice Giannella por volta das 2 horas, após esgotadas as possibilidades de negociação.

"Os policiais novamente tentaram retomar as negociações até as 8 horas da manhã. Como não houve acordo, os policiais foram autorizados a entrar nas unidades e liberar os reféns, que estavam com os adolescentes há quase 10 horas." Foram libertados 26 funcionários reféns, 21 homens e 5 mulheres.

Para tentar impedir a entrada da tropa de choque, os menores incendiaram colchões e móveis. As unidades 14 e 23 foram destruídas e, após a rebelião, os menores foram remanejados a outro prédio no mesmo complexo.

Segundo relatório divulgado na Assembléia Legislativa paulista a partir de visita feita ao local por autoridades de governo e representantes de organizações civis, as principais reclamações dos internos versam sobre agressões que estavam sendo praticadas antes da rebelião e, posteriormente continuaram, sob alegação de que seriam em razão da rebelião.

"Os internos desta unidade (14) também relataram que a rebelião ocorreu devido à forte pressão a que estavam sendo submetidos. Esta pressão corresponderia a castigos físicos caso [não] fossem obedecidas as regras de conduta impostas pelos diretores, tais como andar de cabeça baixa, com as mãos para trás e dispensar tratamento aos funcionários de senhor".