Internos acusam diretores e funcionários do Complexo de Tatuapé de agressões e tortura

16/04/2006 - 10h09

Paulo Montoia
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Quatro diretores de unidades (edifícios) e vários funcionários do Complexo do Tatuapé da Febem de São Paulo são acusados de agressão e torturas pelos menores internados, em relatório divulgado esta semana na Assembléia Legislativa paulista.

O documento detalha visita feita ao local na última segunda-feira (10) por uma comissão de direitos humanos, formada por autoridades de governo e representantes de organizações civis. Segundo a assessoria de imprensa da Febem, denúncias como essas são apuradas, mas em todos os casos de inquérito cabe ao funcionário provar que não foi ele quem cometeu os excessos ou crimes dos quais é acusado.

Várias denúncias são da unidade 13. "A.F. disse que o diretor M. lhe deu chutes e um tiro de bala de borracha", revela o documento. Em outro trecho, o relatório revela que "o diretor ainda visou que, se denunciassem, a situação ia piorar".

De acordo com o relatório, as denúncias de práticas de agressões recaem justamente sobre o diretor. "Segundo os internos o diretor sempre ressalta que veio do Sistema Penitenciário e que os internos acima de 18 anos seriam encaminhados à cadeia. Os internos relatam ainda que o diretor teria ameaçado se autolesionar e culpar os adolescentes".

Na unidade 14, o interno M.B.F relatou que foi transferido da unidade 15 para a unidade 14 no domingo (dia 02/04/2006), dois dias antes da rebelião. "Chegando na unidade 14 sofreu um espancamento chamado de recepção, que teria sido coordenado pelo próprio diretor B.", diz o relatório. Na mesma unidade, "E.L. contou que teve uma faca colocada no pescoço pelos funcionários da unidade 14".

No relatório da mesma unidade 14, "E.T.S., interno da unidade 23 (...) disse que teria apanhado diretamente do diretor da unidade, conhecido como R. O adolescente C.S.O. mostrou uma marca no ombro ocasionada por supostos espancamentos".

No edifício 15, "o interno G. relata que teria presenciado o diretor (R.) pisar no rosto do interno F. e do interno H.", diz o relatório da unidade 23. "Os internos informaram que um pouco antes de nossa ida à unidade, dois internos (conhecidos como S. e M.) apanharam do próprio diretor – Sr. L. – e de outros funcionários, na frente dos demais".

O relatório contém as informações que a comissão ouviu e apurou com os internos e não inclui depoimento de funcionários. A rotina de troca dos jovens de uma unidade para outra, a troca de nomes e a dificuldade dos internos de se expressar, entre outros fatores, dificultam o entendimento do próprio relatório.