Especial 15 – Agronegócio divide a opinião dos grandes e pequenos produtores

15/04/2006 - 12h14

Paulo Machado
Enviado especial

Lucas do Rio Verde (MT) – O município de Lucas do Rio Verde, localizado a 280 quilômetros ao norte de Cuiabá, capital do Mato Grosso, apesar de ter apenas 16 anos de emancipação política, conta com uma infraestrutura urbana completa. Atualmente, ganha os lucros da produção da monocultura da soja que a transformou na segunda maior produtora de grãos do Brasil. Contudo, após a pulverização da cidade com agrotóxicos no início de março, o modelo ambiental do agronegócio divide as opiniões dos grandes proprietários, do prefeito e dos pequenos produtores.

Lucas tem 25 mil habitantes e uma das maiores taxas de crescimento demográfico do país. Sua população cresce em torno de 12% ao ano. Apesar do índice da Organização das Nações Unidas (ONU) qualificar Lucas como o terceiro melhor município do estado Mato Grosso para viver, os pequenos agricultores criticam o modelo da monocultura da soja por concentrar a renda da cidade.

"Esse é um modelo que não pode se sustentar a longo prazo. Quando a soja estava a R$ 45 a saca, como em 2004, ela avançou sobre a Amazônia derrubando a floresta e concentrando ainda mais a propriedade. Os fazendeiros diziam que o agronegócio era a solução para o Brasil. Agora que a saca esta a R$ 15 eles ficam chorando e querendo que o povo pague a conta, que o governo prorrogue as dívidas deles", afirma o presidente da Associação dos Chacareiros de Lucas do Rio Verde, Celito Trevisan.

A equipe de reportagem da Radiobrás procurou três grandes produtores de soja da região para comentar sobre a pulverização de agrotóxicos e o modelo de desenvolvimento da região, mas nenhum quis comentar o fato. O prefeito do município, Marino José Franz, afirma que a sua gestão está empenhada em "provocar mudanças" no atual modelo. Para ele, é preciso aprofundar ainda mais o agronegócio.

A solução para a dependência da economia local, segundo Franz, está na "verticalização" da produção. Ou seja, ao invés do município exportar os grãos de soja, de milho e de arroz, ele quer atrair indústrias que transformem esses grãos em óleo, rações e outros derivados, agregando valor a produção.

E para isso, Franz lastima que o município ainda esteja vivendo problemas para o escoamento da sua produção, pois a única via de acesso é a BR-163, Cuiabá-Santarém, que está em condições precárias. Em um mapa impresso pela prefeitura, ele aponta a solução. "Nossa saída está na ferrovia. Um braço da Norte-Sul poderia levar nossa produção até o Porto de Itaqui no Maranhão", afirma o prefeito. Marino, que também é exportador de soja, argumenta que se o município conseguir resolver o problema de logística as indústrias que ele deseja se instalarão na cidade.

Já o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde, Nilffo Vandcheer, defende que a solução está na diversificação da produção do município, no fortalecimento da agricultura familiar e da produção orgânica. Segundo ele, o agronegócio emprega pouco, concentra a renda na mão dos grandes fazendeiros, degrada o meio ambiente com o uso intensivo de fertilizantes químicos, agrotóxicos e de maquinário pesado que compacta o solo impedindo a infiltração da água e causando erosão.

"O agronegócio já devastou as matas do município, acabou com a diversidade de espécies vegetais e animais da região, contaminou os rios e as lagoas e agora ameaça inclusive a saúde e a qualidade de vida dos habitantes", disse em referência às pulverizações de agrotóxicos.