Funcionários da Varig querem mobilizar Congresso e Planalto para crise da empresa

10/04/2006 - 15h55

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio – Trezentos funcionários da Varig sairão amanhã (11) às 7h30, em vôo fretado, do Aeroporto Internacional do Galeão (RJ) com destino a Brasília. Ali, vão se encontrar com outros empregados e aposentados da companhia, procedentes de Porto Alegre e São Paulo, para realizar, no Congresso Nacional, a "Marcha pela Salvação da Varig". O objetivo da manifestação é obter apoio dos parlamentares na solução da crise da empresa.

Às 15 horas, a comitiva seguirá para o Palácio do Planalto, onde espera ser recebida pelos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Waldir Pires (Defesa), aos quais a empresa Trabalhadores do Grupo Varig (TGV) encaminhou um pedido de audiência, na última sexta-feira (7).

O diretor da Associação de Pilotos da Varig (Apvar) e representante da TGV, Felipe Paiva, disse que os trabalhadores querem sensibilizar o governo para ajudar a solucionar o caso. "A gente está tentando fazer com que o governo se sensibilize, mas temos que ser recebidos até para mostrar qual é o nosso pleito, porque a coisa está muito confusa", afirmou, em entrevista à Agência Brasil. "As pessoas acham que a gente está com o pires na mão pedindo esmola, e a realidade não é essa. A empresa tem condições de sobreviver".

Segundo ele, a idéia não é, "de forma alguma", pedir dinheiro emprestado ao Tesouro Nacional, como teria entendido o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "As coisas têm que ficar claras e o governo tem condições, sim, de viabilizar a sobrevivência da empresa".

De acordo com ele, os funcionários reivindicam um prazo de carência no pagamento aos fornecedores da Varig, como prevê a proposta do novo gestor profissional da empresa, a consultora norte-americana Alvarez&Marsal. Paiva informou que os fornecedores privados, dentre os quais, os arrendadores de aeronaves, se mostraram dispostos a oferecer essa carência. A categoria espera agora a posição das estatais.

Paiva disse ainda que a Varig precisaria de um fôlego de 60 dias em termos de combustível e de cerca de 90 dias nas taxas aeroportuárias. "Com essa carência, a empresa melhoraria o fluxo de caixa, podendo iniciar o processo de recuperação judicial, que não conseguiu fazer. Ela tem um plano aprovado pela maioria dos credores, inclusive as estatais (Infraero, Banco do Brasil, BR Distribuidora), e não pode colocar em prática porque não tem dinheiro", observou.

Uma eventual falência da Varig, acrescentou o executivo, acarretaria 11 mil demissões imediatas de empregados diretos e cerca de 100 mil desempregos indiretos, além da falência do fundo de pensão, que tem em torno de oito mil aposentados. "A Varig tem mais de 75% do mercado de vôos internacionais. Haveria um colapso [no setor] porque as empresas nacionais não têm a menor possibilidade de fazer as rotas internacionais", avaliou. "Elas não dispõem de aeronaves de grande porte que cubram vôos intercontinentais e, obviamente, o governo teria de propiciar a entrada de empresas estrangeiras, o que seria muito ruim para o setor aéreo nacional. Então, o impacto imediato seria terrível para o mercado aéreo".

Além do pleito de maior prazo para pagamento das despesas, Paiva destacou que os trabalhadores têm outra alternativa para salvar a Varig: o uso de parte da poupança acumulada no fundo de previdência da categoria (Aerus) como investimento, o que permitiria viabilizar as operações da companhia no curto prazo. Ele lembrou, ainda, que a empresa possui um crédito com o governo no valor de R$ 4,5 bilhões – montante que só poderia ser liberado após o julgamento em última instância do processo que corre na Justiça.