Soja impulsiona desmatamento e exploração da mão-de-obra escrava, diz relatório

07/04/2006 - 16h48

Juliana Andrade e Ivan Richard
Da Agência Brasil

Brasília – O relatório "Comendo a Amazônia", divulgado pela organização não-governamental Greenpeace Internacional, aponta que, além de devastar a floresta, o avanço na produção de soja na Amazônia impulsiona a exploração da mão-de-obra escrava na região: moradores pobres de áreas rurais e da periferia das cidades são levados para áreas remotas da Amazônia para trabalhar como escravos em áreas de desmatamento ilegal.

"Os estados amazônicos que se encontram na vanguarda da expansão da soja também lideram as tristes estatísticas brasileiras de trabalho escravo registrado em fazendas, campos e em áreas de florestas", diz a versão em português do relatório. O avanço da produção de soja, de acordo com o texto, também prejudica populações indígenas e comunidades tradicionais, forçadas a deixar as terras onde vivem para ceder espaço às plantações.

A poluição resultante do uso intensivo de agrotóxicos nas monoculturas de soja também traz danos à população rural, aponta o Greenpeace. Segundo a organização ambientalista, "as vilãs da indústria da soja brasileira" são três multinacionais norte-americanas do setor do agronegócio: a Cargill, a Bunge e a Archer Daniels Midland (ADM).

As empresas as empresas oferecem facilidades aos produtores, como crédito e mercado garantido, "dando incentivos e recursos para que eles comprem e desmatem grandes extensões de terra a fim de que a produção de soja seja lucrativa".

Em relação ao trabalho escravo, o estudo aponta a ligação entre as multinacionais e fazendas que plantam soja, explorando esse tipo de mão-de-obra. Uma delas é a Fazenda Roncador, em Querência, no Mato Grosso. De acordo com o Greenpeace, entre 1998 e 2004, fiscais do governo libertaram 215 trabalhadores que viviam em regime de escravidão.

"Mesmo que os proprietários da fazenda estejam sendo processados, a fazenda Roncador continua plantando soja para o mercado. Tanto a Cargill quanto a Bunge instalaram operações em Querência e a Bunge registrou exportações da região em 2005", denuncia o documento.