Pesquisadora diz que experimento testado no espaço pode estar no mercado em um mês, se der certo

05/04/2006 - 21h36

Flávio Dieguez*
Enviado especial

Moscou – Márcia Matelli, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), enviou uma experiência à Estação Espacial Internacional (ISS) para estudar a construção de uma nova tecnologia espacial: um aparelho que, segundo ela, é crucial para o avanço da indústria de satélites.

A idéia é testar minúsculos aparelhos de ar condicionado – tanto menores, melhor –, que gastam muito pouca energia. "Se um aparelho assim fosse desenvolvido, estaria no mercado um mês depois", diz Matelli. Hoje o astronauta brasileiro Marcos César Pontes terminou os testes para saber se a idéia dela pode se transformar nesse aparelho. A realização dos testes no espaço foi acompanhada na Rússia por um pesquisador da equipe de Matelli, Kléber Paiva.

A utilidade desse tipo de aparelho é alta, segundo a pesquisadora, porque os satélites estão se tornando cada vez menores e, com isso, aumenta a concentração de calor dentro deles. Esse calor é gerado por circuitos eletrônicos e outros equipamentos. Matelli cita o caso dos computadores, que também tiveram problemas de aquecimento quando se tornaram menores. Nesse caso, foi preciso colocar ventoinhas perto do circuito eletrônico para resfriá-lo e evitar que queimasse.

Só que se gasta muita energia para virar a ventoinha, e energia, nos satélites é preciosa. Não há muito espaço para montar geradores, e além disso aumentaria o peso dos satélites e o custo para mandá-los ao espaço. Por isso, os mini-tubos de Matelli são pequenos, com cerca de 10 centímetros. Se funcionarem bem, vão espalhar o calor dentro do satélites, praticamente sem gastos de energia.

Matelli está animada, mas diz que no Brasil ainda há pouco incentivo para pesquisas tecnológicas como a sua. Ela explica essa opinião citando o satélite lançado pelo Brasil em cooperação com a China, o CBERS. "Tínhamos plenas condições de oferecer (tecnologia espacial) para o CBERS, mas ele usa tecnologia importada", reclama.

Essa situação é contraditória, diz a pesquisadora, já que o laboratório em que ela trabalha na UFSC foi montado pela própria Agência Espacial Brasileira, responsável pelo CBERS. "E no entanto, nós, que fornecemos tecnologia até para a Petrobrás, não fornecemos para o programa espacial".

* A viagem do enviado especial Flávio Dieguez é resultado de parceria entre a Radiobrás e o Ministério da Ciência e Tecnologia.