Movimentos sociais mineiros divulgam propostas para projeto popular brasileiro

04/04/2006 - 20h33

Carolina Pimentel
Enviada especial

Belo Horizonte - Os movimentos sociais mineiros contrários à realização da 47ª Reunião Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), elaboraram uma carta com 15 propostas para a construção de um projeto popular brasileiro. O documento é resultado do 1º Encontro dos Movimentos Sociais Mineiros, iniciado no sábado (1º).

Algumas das propostas são: interrupção do projeto de transposição das águas do rio São Francisco, respeito às organizações dos trabalhadores e trabalhadoras, realização de um ampla reforma agrária, fim do trabalho escravo, suspensão do pagamento da dívida externa e sistema político com mais participação popular. "É preciso reverter esse histórico de injustiças. É preciso afirmar categoricamente: O Brasil tem jeito e pode ser diferente", diz a carta.

Em outro trecho, os movimentos sociais afirmam que as políticas do BID visam a uma "nova colonização" dos países pobres, com aumento de impostos, dependência externa e degradação ambiental: "Construíram no imaginário da população mineira, através do uso incessante e exaustivo da mídia, a idéia de um BID completamente diferente de seus reais interesses".

Segundo o coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Joceli Andrioli, os manifestantes tentarão mais uma vez entregar a carga ao banco: "Acreditamos que temos esse direito. Pretendemos entregar essa carta ao BID amanhã de manhã".

Ontem (3), representantes dos movimentos sociais entraram em confronto com a Polícia Militar, diante da sede da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), em protesto contra a reunião. Eles tentavam entregar a carta para os governadores do banco. Manifestantes e policiais ficaram feridos e 11 pessoas foram presas, segundo a organização do protesto.

O assessor sênior de informação pública do BID, John Ferriter, afirmou que a instituição tem intensificado os canais de comunicação com a sociedade civil, como consulta sobre as políticas a serem adotadas. Segundo ele, as organizações que se inscreveram para participar da reunião tiveram encontros com o vice-presidente executivo do banco, Ciro de Falco, e outras autoridades.

"É importante que a sociedade civil tenha voz nesse debate, nessas reflexões. É importante que a gente discuta essas questões e não se esconda. A questão da transparência é fundamental. Qualquer instituição publica perde legitimidade se não for aberta às vozes dos povos afetados pelos projetos", disse o assessor, em entrevista à Agência Brasil.

Ciro de Falco lembrou que a representação do BID no Brasil possui um conselho assessor da sociedade civil, que debate as diferenças regionais no país.