Dirigente de associação avalia que Mercosul vive crise ao completar 15 anos

04/04/2006 - 13h43

Jansem Campos
Repórter da Agência Brasil

Rio - Quando o Mercosul, bloco formado por países sul-americanos, completa 15 anos, o vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior, José Augusto Castro, avalia que o grupo ainda está longe da sonhada integração comercial, além de viver uma "crise existencial típica da idade". A avaliação foi feita hoje em entrevista ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional.

"Podemos dizer que, depois de 15 anos, o Mercosul se comporta como um adolescente. Não sabe se é uma união aduaneira, que é o objetivo original, ou se é apenas uma Área de Livre Comércio. A primeira se caracterizaria se os quatro países tivessem o mesmo tipo de tarifa nas operações de comércio internacional. Na segunda, os países teriam tarifas individuais", explica. "O objetivo é que fôssemos uma União Aduaneira, mas nos comportamos mais como uma Área de Livre Comércio, porque cada país, principalmente a Argentina, adota tarifas especificas que perfuram o acordo que nós temos hoje", completa.

Apesar da crise, segundo Castro, o comércio entre os países do Mercosul teve crescimento significativo. Ele destaca que este crescimento foi comprometido por interesses políticos. "No começo, houve um crescimento comercial muito forte. Mas, com o passar do tempo, o Mercosul passou a ser utilizado politicamente. O próprio Brasil se utilizou do Mercosul como forma de se fortalecer politicamente frente aos Estados Unidos na negociação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Houve um desvio dos objetivos iniciais do Mercosul, mas comercialmente foi muito bom", avalia.

Para Castro, a relação Brasil e Argentina é o ponto mais importante e delicado do bloco. "Brasil e Argentina não admitem ser complementares um ao outro. Os dois querem ser o exportador do produto final. Isto gera dificuldade entre os países. Na realidade, a complementariedade é uma concorrência. Basicamente, os investimentos aplicados hoje no Brasil e Argentina são estrangeiros. Quando uma empresa estrangeira analisa os dois países, opta pelo Brasil, que tem maior mercado interno, além da chance de usar o mercado externo", explica.

A entrada da Venezuela no Mercosul é vista com ressalvas pelo vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior. "A entrada da Venezuela vai acrescentar pouco. Apesar do país ter muito petróleo, politicamente, o momento da Venezuela é complicado, o que dificulta o fechamento de acordos", analisou.