Professor afirma que integração entre países do Mercosul ainda é tímida

01/04/2006 - 10h29

Cecília Jorge
Repórter da Agência Brasil

Brasília – No mês em que o Mercosul completa 15 anos de existência, o professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Argemiro Procópio Filho avalia que a integração entre os países-membros do bloco econômico ainda é extremamente tímida. Mesmo a relação econômica, que sempre foi o centro das atenções, enfrenta problemas, segundo o professor.

"Cada país-membro tem que entender que o processo de integração não é um processo só flores. O processo de integração exige sacrifícios", disse em entrevista à Agência Brasil. A criação do Mercosul ocorreu com a assinatura do Tratado de Assunção por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai no dia 26 de março de 1991.

Procópio explicou que os integrantes do bloco continuam competindo internamente para garantir espaço comercial nos outros países. "Os nossos produtos não são exportados em comum para enfrentar o mercado internacional. Nós competimos internamente, às vezes, numa luta cega", ressaltou.

Como exemplo dessa situação, ele citou o caso do trigo argentino e do açúcar brasileiro. "Seria melhor o Brasil mostrar para o lobby da triticultura que o trigo argentino é mais competitivo, mais barato e de melhor qualidade. Os argentinos das províncias do norte teriam que ver também que o açúcar brasileiro é mais competitivo".

Para mudar esse quadro, o professor defende que é preciso incentivar as vocações regionais. "Tem que haver um entendimento mútuo. A integração não permite que você apenas olhe para o umbigo", disse. Outra mudança importante que precisa ser adotada, segundo Procópio, é o investimento em produtos de valor agregado para evitar que os países do Mercosul continuem exportando commodities, como couro e minérios, e comprando os produtos industrializados, como sapatos e aviões.

Para o cientista político Ricardo Caldas, da UnB, os principais desafios do Mercosul estão relacionados às questões comerciais. Segundo ele, nem mesmo a questão tarifária para o comércio entre os países-membros foi resolvida. "Nós somos uma união aduaneira ainda imperfeita. Os países todos possuem exceções [tarifárias]", disse em entrevista à Rádio Nacional.

Apesar do acordo de livre comércio, Caldas ressaltou que os países continuam impondo barreiras aos produtos dos países parceiros. Recentemente, a Argentina, por exemplo, adotou restrições a produtos brasileiros, como calçado e frango. "O Mercosul não é nem sequer ainda uma área plena de livre comércio, muito menos uma união aduaneira completa", destacou.