Posse de Evo Morales é apontada como motivo de esperança por colombiana refugiada no Brasil

21/01/2006 - 18h13

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil

Manaus - A posse amanhã (22) do presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, tem um significado especial para a colombiana Lílian Esther Vargas: a esperança de que seu marido, Francisco Cortes (ou Pacho Cortes, como é conhecido) seja libertado. Militante do movimento componês, a prisão de Cortes motivou a criação da "Campanha Continental da Via Campesina Contra a Política de Criminialização dos Movimentos Sociais". Ele foi detido em 10 de abril de 2003, quatro dias após chegar à Bolívia fugindo das ameaças das organizações paramilitares colombianas. Em maio do ano passado, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que sua detenção era arbitrária. Em novembro, o Comitê Nacional para Refugiados (Conare) da Bolívia classificou Cortes como perseguido político e defensor dos direitos humanos.

Lílian Vargas contou que ela e o marido atuam há 22 anos no apoio à luta dos trabalhadores rurais pela reforma agrária e que desde 1999 faziam parte de um programa do governo colombiano de proteção a lideranças sociais ameaçadas. "A gente recebia telefonemas dizendo que seríamos torturados e mortos. E eles torturam mesmo, as pessoas desaparecem", denunciou. "Nossos dois filhos mais novos - o casal tem quatro filhos - foram vítimas de tentativas de seqüestro por três vezes. Então, resolvemos deixar o país".

Cortes está preso há 33 meses, sem julgamento, lembra Lílian. "O Pacho tinha duas missões na Bolívia: asssessorar os camponeses indígenas, pela Via Campesina [movimento que reúne associações camponesas de mais de 76 países] e ver se havia condições para levar toda a família para lá", revelou. "Mas ele foi preso como um grande traficante de drogas, sem prova alguma. O governo queria desmoralizar a luta de Morales, insinuar que ele estava recebendo apoio dos terroristas".

Desde 24 de novembro de 2004 Lílian Vargas está no Brasil na condição da refugiada política. Hoje (21), ela viajou de ônibus da capital amazonense com destino a Caracas, na Venezuela, onde participará do Fórum Social Mundial (FSM). Para sair do país, precisou de autorização do Ministério da Justiça brasileiro.