Militantes sociais da Amazônia dizem que região será tema privilegiado no FSM

21/01/2006 - 18h08

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil

Manaus - A realização do Fórum Social Mundial (FSM) na Venezuela contribui para esquentar as discussões sobre as violações de direitos humanos na Amazônia e a cobiça internacional pela biodiversidade da região. Esta é a avaliação de alguns militantes do movimento social que saíram hoje (21) da cidade a bordo de um ônibus com destino a Caracas, em uma viagem que deve durar 36 horas. "É um momento precioso para o mundo e a região discutirem os interesses que ameaçam nossas riquezas naturais", declarou o membro da Pastoral da Terra e vereador pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em Manaus, José Ricardo. "A natureza está sendo desrespeitada, mas não pelo caboclo-ribeirinho", concordou a coordenadora do movimento Nação Mestiça, Marfely Farias Frias.

"Nunca fui ao Fórum Social Mundial e estou indo realmente para conhecer as pessoas e as organizações", contou o professor de Parasitologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Welton Oda. Em Caracas, ele pretende acompanhar os debates sobre as artes como instrumento de construção de um novo patamar de relacionamento entre as pessoas e sociedades.

Já o representante do Centro da Cultura Indígena, Antenor Karitiano, esteve em edições anteriores do FSM e vê o evento como uma oportunidade de denunciar os problemas que os povos indígenas enfrentam em Rondônia. "A gente quer aproveitar e divulgar o máximo possível o que acontece. As situações mais gerais: saúde, educação, fiscalização da área, falta de atendimento, fome".

A colombiana Lílian Esther Vargas, participante da Via Campesina, movimento que reúne associações camponesas de mais de 76 países, também avaliou que o FSM é um espaço estratégico de denúncia e de mobilização. "Ali temos a possibilidade de a sociedade civil expressar todas as violações que acontecem contra os movimentos e seus dirigentes", afirmou. Lílian faz parte da "Campanha Continental da Via Campesina Contra a Política de Criminalização dos Movimentos Sociais". Ela própria é vítima da perseguição aos defensores dos direitos humanos. Em novembro de 2004 foi acolhida no Brasil como refugiada política, após dois de seus quatro filhos sofrerem três tentativas de sequestro. Para viajar à Venezuela, precisou de uma autorização do Ministério da Justiça brasileiro.

Além de Caracas, a sexta edição do FSM será realizada em mais dois lugares. Em Bamako (Mali), na África, os debates começaram no dia 19 e termina na segunda-feira (23). Já em Karaki (Paquistão), outra sede do fórum, o evento está previsto para março, mas ainda sem data marcada. Na Venezuela, o FSM terá seis dias de duração. A abertura dos trabalhos ocorre no dia 24.