Campanha vai exigir que acordos comerciais não tratem do uso de água

19/01/2006 - 6h47

Daniel Merli
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O 6º Fórum Social Mundial deve marcar o surgimento de uma nova bandeira. No seu capítulo americano, que começa na próxima semana em Caracas, capital venezuelana, o Fórum deve ser palco do lançamento de uma campanha para evitar que os recursos hídricos sejam privatizados. "Vamos dar início a uma mobilização continental para tirar a água de todos os acordos comerciais", antecipa Pablo Solón, diretor da Fundação Sólon – organização da sociedade civil responsável pela mobilização que resultou na lei para reverter a privatização de petróleo e gás na Bolívia.

De acordo com o militante boliviano, há uma articulação de movimentos latino-americanos boliviano que vai se posicionar contra a inclusão de cláusulas sobre água nos Tratados de Livre Comércio – como fez o Chile com em acordo com os Estados Unidos. "Queremos também que os recursos hídricos sejam tirados das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC)", disse Sólon, de La Paz, em entrevista por telefone à Agência Brasil.

Sólon considera que esses acordos tentam tornar a água um produto como outro qualquer ao determinar que os países não podem impor barreiras para o investimento privado no setor. Segundo o militante, essa lógica de comercialização vai contra a idéia de que a água é um direito universal, a ser provido pelo Estado.

O ativista boliviano também acredita que esses acordos, muitas vezes, passam por cima de legislações locais. Cita como exemplo o Uruguai, onde um plebiscito, no ano passado, determinou que a água não poderia ser privatizada. No entanto, um acordo comercial que está sendo discutido pelo governo uruguaio com os Estados Unidos determina que as empresas têm direito de investir no setor, o que contrariaria o resultado do plebiscito.

O Fórum é o principal encontro da sociedade civil para discutir a luta pela democratização da política e da economia. O 6º Fórum Social Mundial traz uma novidade ao ser realizado, quase simultaneamente, em três continentes diferentes. Nas versões anteriores, o encontro aconteceu quatro vezes em Porto Alegre (2001, 2002, 2003 e 2005), intercalado por uma edição em Mumbai, cidade indiana antes conhecida como Bombaim.

Entre os dias 24 e 29 de janeiro, o Fórum será realizado em Caracas, capital venezuelana. Poucos dias antes, o encontro acontece em Bamako, capital de Mali, país no noroeste africano. Alguns meses depois, está programada a parte asiática do FSM, em Karachi, cidade paquistanesa.