EUA alegam combater terrorismo para justificar presença militar na América do Sul, avalia estudioso

18/01/2006 - 15h34

André Deak e Bianca Paiva
Da Agência Brasil

Brasília – Para manter em funcionamento uma indústria bélica nacional, os Estados Unidos precisam espalhar pelo mundo soldados e bases militares. Essa é a premissa de Luiz Alberto Moniz Bandeira, que tem os EUA como objeto de estudo há mais de 50 anos. Para ele, o combate ao terrorismo é apenas "um pretexto para eles justificarem a sua presença no Paraguai e em outras partes da América do Sul".

O professor aposentado da Universidade de Brasília que assumiu a função de adido cultural no Consulado Geral do Brasil em Frankfurt, na Alemanha, falou com à Agência Brasil sobre o assunto. Leia, abaixo, o principais trechos da entrevista:

Agência Brasil: No livro Formação do Império Americano, o senhor fala sobre a presença de militares norte-americanos na América do Sul. Os Estados Unidos garantem que muitos desses militares estão na região para combater o terrorismo.

Luiz Alberto Moniz Bandeira: Combater o terrorismo é uma besteira. O terrorismo não é uma ideologia, não é um Estado. É uma ferramenta de luta, é um método que todos usaram ao longo da história. O que eles querem combater agora é o terrorismo islâmico. Mas por que surgiu esse fenômeno do terrorismo islâmico? Com a presença dos EUA na Arábia Saudita ocupando os lugares sagrados, por exemplo. Antes disso, ainda, Os EUA insuflaram o terrorismo islâmico contra os soviéticos, no Afeganistão. Começou aí.

ABr: Os EUA classificam de terroristas o Exército Zapastita de Libertação Nacional do México e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Estão certos?

Moniz Bandeira: Eles desejam que todos que os se insurgirem contra eles sejam considerados terroristas. Sempre foi assim. Hitler chamou de terroristas todos os que resistiam à ocupação alemã. Os companheiros que foram da luta armada aqui no Brasil contra o regime autoritário foram chamados de terroristas. O terrorismo é um método de guerra, usado inclusive pela CIA [sigla em inglês para a Agência Central de Inteligência dos EUA]. O que a CIA fez contra Cuba? Planejou até um atentado, derrubando um avião, para acusar o governo cubano e justificar a invasão de Cuba. Planejou explodir o foguete que levaria John Glenn ao espaço para acusar Cuba e invadi-la. A CIA sempre foi um instrumento de terrorismo. Os EUA definem o terrorismo como sendo uma organização a serviço de um estado que pratica atos de violência com objetivos políticos. É exatamente o que CIA sempre fez. A CIA, o Mossad [a agência de inteligência israelense] e outros serviços. Quem são terroristas? Ariel Sharon, David Ben Gourion e Menachem Begin foram terroristas. Eles explodiram em 1946 o King David Hotel em Jerusalém, matando pessoas contra o domínio inglês. Venceram e hoje são estadistas.

ABr: Os Estados Unidos dizem que existem terroristas na tríplice fronteira.

Moniz Bandeira: Besteira também. Apenas porque existam lá islâmicos. Porque eles mandam dinheiro privadamente para suas famílias. Que esse dinheiro seja desviado para outras atividades ninguém pode impedir. É um pretexto para justificarem a sua presença no Paraguai e em outras partes da América do Sul. Os Estados Unidos são o único país que tem um exército não para defesa do país, mas para manter bases americanas pelo mundo.

ABr: A presença de bases americanas pode atrair o terrorismo?

Moniz Bandeira: A maior quantidade de ataques terroristas contra os Estados Unidos, até recentemente, foi na América latina. Grande parte contra militares, empresas privadas norte-americanas e contra os oleodutos na Colômbia. Mas eles podem forjar um atentado terrorista em Foz do Iguaçu para acusar terroristas e, na verdade, foi praticado pela CIA. Eles fazem isso. Isso é guerra psicológica. A CIA cansou de fazer isso, inclusive aqui no Brasil. Veja o caso do Rio Centro: um atentado preparado para justificar a repressão.