Ex-secretário de Campinas reafirma esquema de arrecadação de recursos em prefeituras petistas

17/01/2006 - 14h02

Benedito Mendonça
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O ex-secretário de Finanças da prefeitura de Campinas Paulo de Tarso Venceslau reafirmou hoje (17), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, as denúncias que fez, em abril de 1997, ao então presidente de honra do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, sobre irregularidades envolvendo a Consultoria para Empresas e Municípios (Cpem), que prestava serviços a diversas prefeituras do partido.

"As irregularidades iam de falsificação de assina­turas e rasuras a fórmulas de cálculo fajutas e isenção de licitação em favor da Cpem", afirmou Paulo de Tarso. Ele disse que "o esquema de arrecadação irregular de recursos" era operado por Roberto Teixeira, compadre e amigo de Lula. De acordo com o ex-secretário, uma das finalidades do esquema era ajudar financeiramente a Caravana da Cidadania, criada para trabalhar na campanha eleitoral.

Segundo o ex-secretário, o relatório de uma comissão de inquérito criada pelo PT para investigar o caso comprovou as irregularidades e pediu punição para Teixeira. Paulo de Tarso disse que a comissão não pediu seu afastamento do partido. "No entanto, o Conselho de Ética do PT, depois de examinar o relatório e ouvir outras pessoas, decidiu por minha expulsão do partido, mantendo a punição a Teixeira", disse ele. Paulo de Tarso apresentou o relatório na CPI dos Bingos.

Ele afirmou que foi "sumariamente exonerado" do cargo de secretário de Finanças de São José dos Campos (SP), onde também trabalhou. Paulo de Tarso apontou como responsáveis pela exoneração Paulo Okamotto (hoje presidente do Sebrae) que, segundo ele, "não tinha nenhum cargo dentro do PT, além de ser amigo do presidente Lula", e Paulo Frateschi, da direção do partido. O ex-secretário disse que, por ter denunciado o esquema e aberto uma comissão de inquérito que mostrou os desmandos cometidos, acabou contrariando interesses de grupos que forçaram sua saída da legenda.

Paulo de Tarso contou que, para deixar o caso documentado, enviou uma carta registrada a Lula, que era presidente de honra do PT, explicando o mecanismo de arrecadação de recursos da empresa de Teixeira. O ex-secretário lembrou que, em uma reunião da qual participou Paulo Okamotto, ouviu o então presidente do partido mandar agendar uma conversa com Roberto Teixeira para esclarecer os fatos.

Amanhã (18) a CPI dos Bingos deve apresentar o relatório parcial sobre a renova­ção do contrato da Caixa Econômica Federal com a Gtech em 2003. Para quinta-feira (19), estão marcados os depoimentos de Éder Eustáquio Macedo e dos procuradores de Campinas Ricardo José Gasques de Almeida Silvares e Fernando Pereira Vianna Neto.

Na quebra do sigilo telefônico de Rogério Buratti, Vladimir Poleto e Ralf Barquete (ex-assessores de Antonio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto), aparecem várias ligações para um telefone celular registrado em nome da representação do Ministério da Fazenda no Rio de Janeiro. O aparelho era usado por Éder, admitido em 2003 em Brasília para trabalhar no gabinete do ministro no Rio. Éder foi citado em matéria da revista Veja no dia 29 de outubro como sendo o motorista que teria transportado, em julho de 2002, três caixas supostamente com dólares provenientes de Cuba e destinados à campanha do PT.

Ricardo José Gasques de Almeida Silvares e Fernando Pereira Vianna Neto são procuradores do estado de São Paulo que trabalham no caso do assassinato do ex-prefeito de Campinas Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, morto em 10 de setembro de 2001.