Analfabetos são maiores vítimas de trabalho escravo

16/01/2006 - 5h50

Érica Santana
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Os homens analfabetos são a maioria das vítimas de trabalho escravo no Brasil, segundo informa o assessor da Secretaria de Inspeção do Trabalho, Marcelo Campos. Esses homens trabalham, principalmente, no desmatamento e na preparação de florestas e solos para o plantio de sementes, de capim, além da criação de gado. No ano passado, o Pará foi o estado com o maior número de trabalhadores libertos, 1.128 ao todo, pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego.

Campos diz que, freqüentemente, há confusão sobre as definições de trabalho escravo e regime degradante de trabalho. "Trabalho escravo é quando o trabalhador está impedido de romper com o trabalho. Não é possível a ele dizer, para quem o está explorando, que no dia seguinte não volta a trabalhar. Se disser, vai receber surras ou até ter a sua vida em risco", informa.

No trabalho degradante, segundo o assessor, a pessoa pode romper o contrato. "A pessoa tem a supressão de todo seu direito trabalhista, como no caso do trabalho escravo, mas efetivamente, se ela quiser, não precisa voltar a trabalhar no dia seguinte", explica.

Segundo Campos, os trabalhadores que vivem em regime análogo à escravidão são iludidos com promessas de emprego e uma vida melhor. Eles são aliciados por fazendeiros ou intermediários, os chamados "gatos". "Eles vão aonde há trabalhadores disponíveis, na maioria das vezes em outros estados, e fazem falsas promessas de bons salários, boa moradia e boas condições de trabalho. Iludem. Levam esses trabalhadores para fazendas, depois de até fazerem algum adiantamento em dinheiro", alerta. "Quando chegam lá, os trabalhadores percebem que nada daquilo que foi prometido era verdade. E quando tentam sair são impedidos".

No ano passado, os ministérios do Trabalho e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome assinaram um termo de cooperação para que os trabalhadores libertos façam parte do programa Bolsa Família.